Martha
Medeiros
Os benefícios de não ser o
melhor
Meu
pai sempre jogou tênis,desde que me conheço por gente. Lembro de uma vez em que
ele comentou que o adversário ideal é o de mesmo nível, mas que se fosse
preciso escolher entre jogar com alguém melhor ou com alguém pior do que ele,
preferiria jogar com alguém melhor, porque gratificante não era vencer fácil
aquele que sabe menos, e sim aprender com quem te exige algum esforço.
É um
verbo em desuso que merece ser revitalizado: aprender. A verdadeira postura
competitiva não é a daquele cara que almeja atingir o topo de qualquer maneira,
e sim daquele que extrai de um superior o estímulo para encontrar o próprio
caminho para vencer a si mesmo. Porque não são poucos nossos adversários
internos: a ignorância, o comodismo, a ferrugem. É preciso treinar bastante
para flexibilizar os movimentos, todos: do corpo e da mente.
E
dessa forma avançar, sempre buscando mais, numa estrada hipoteticamente sem
fim. Prefiro ler livros de quem escreve bem melhor do que eu. De quem tem mais
a dizer do que eu. Além do prazer que isso me dá, não vejo outra maneira de
aprimorar meu trabalho. Prefiro conversar com pessoas mais vividas que eu, mais
inteligentes, com melhores histórias para contar.
Talvez
algumas delas sintam o mesmo em relação a mim (pensem que sou eu a mais-mais),
porém o que importa não é essa quantificação, que, aliás, é totalmente
subjetiva. O que estimula é ter consciência do quanto a nossa vida se enriquece
com a experiência do outro. Não por acaso, adoro programas de entrevistas, onde
posso enxergar a emoção do entrevistado, seu humor, sua ironia, sua indignação
– entrevistas por escrito nem sempre destacam essas sutilezas.
Adoro
jantar com quem conhece mais gastronomia do que eu, salientando temperos que
normalmente eu não perceberia. Gosto de viajar com quem já viajou bastante e
desenvolveu um olhar para certos lugares que para mim é novo. Prefiro dançar
com quem sabe me conduzir.
Mas
com a condição de que esses iluminados transmitam sua sabedoria naturalmente,
sem intenção, sem didatismo – senão vira aula, xaropice, perde a graça. Gosto
de aprender sem que o outro perceba que está me ensinando. Claro que
competidores profissionais devem tentar eliminar seu oponente – nhac! Menos um
na escalada ao pódio. Nenhum atleta profissional treina tanto, investe tanto,
pra não se importar em perder em nome do benefício do aprendizado.
Que
aprendizado, o quê. Rubinho, Neymar, Cielo, não desapontem a torcida. Mas os
amadores deveriam perceber que, em vez de se fingirem de campeões duelando com
derrotados, mais vale tornarem-se melhores com a passagem do tempo, através de
vitórias conquistadas no silêncio da observação. É um troféu oferecido por você
a você mesmo – todos os dias.
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