19
de maio de 2012 | N° 17074
NILSON
SOUZA
O marisco e a
borboleta
A
batalha final, como gostava de prognosticar o saudoso Scliar, será
provavelmente entre os catastrofistas e os céticos do meio ambiente. Sou
marisco nesta história, mas tenho lido e ouvido coisas que confundem qualquer
cabeça – mesmo a de um crustáceo, ou molusco, se é que eles a têm. A última, do
lado dos ambientalistas, vem da organização Fundo Mundial para a Natureza
(WWF), entidade internacional reconhecida por suas preocupações com a
conservação global.
Dizem
os senhores da biodiversidade que, se continuarmos poluindo, desmatando e
amontoando gente nas cidades, no ritmo que fazemos agora, precisaremos de três
planetas em 2050. No caso de ficarmos só neste, a previsão é funesta: vão
faltar comida, água, energia, e os coalas irão desaparecer.
Do
outro lado, de parte dos descrentes, assisti outro dia a uma entrevista que Jô
Soares fez com o climatologista Ricardo Augusto Felício, professor da
Universidade de São Paulo, que em poucos minutos derrubou uma a uma todas as
teses predatórias. Disse que o efeito estufa é a maior falácia científica da
história, que o aquecimento global é uma invenção, que a tal camada de ozônio
sequer existe e que não há prova científica de derretimento do gelo dos polos.
Já tinha
ouvido um outro ambientalista, o irmão do falecido Bussunda, dizer que é muita
pretensão do ser humano achar que pode prejudicar o clima do planeta. Ele disse
que sequer fazemos cócega na Terra com os nossos desmatamentos e o nosso
desleixo, que o tempo do universo é muito diferente do tempo da humanidade e
que o máximo que podemos fazer é mal a nós mesmos – do que não pode ter dúvida
quem bebe água de um rio transformado em esgoto cloacal pela população que vive
às suas margens.
Jô
Soares, fazendo graça, perguntou ao seu entrevistado se os puns dos carneiros
da Nova Zelândia não produziriam um “apuncalipse”, provocando gargalhadas.
Também
ri, evidentemente, mas o deboche me acendeu aquele medo atávico do tempo em que
minha mãe cobria os espelhos nos dias de tempestade. Depois de ver aquele
tsunami que alagou meio Japão, não duvido de mais nada. Como vou saber se tudo
aquilo não foi provocado por uma borboleta que bateu as asas com força demais
em algum cafundó do Judas, como apregoa a célebre teoria do caos?
Dos
cientistas e dos ambientalistas, pela mostra acima, é que não virá uma resposta
convincente, pois eles divergem em gênero, número e gracinhas. E sequer são
capazes de encontrar logo os outros dois planetas que poderão nos salvar em
2050.
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