07
de maio de 2012 | N° 17062
L. F.
VERISSIMO
Às banalidades
O
mundo não tem jeito mesmo, deixa o mundo para lá. Não se preocupe em se
distrair e ficar desinformado: quando o mundo chegar ao fim, com um estrondo ou
uma inalação, nós saberemos. Fique descansado, ele não acaba sem você. Vamos às
banalidades, portanto.
Por
exemplo: o que acontece com os seios à mostra quando saem das passarelas? Em
todos os desfiles de moda, pelo menos metade das modelos mostra roupas
transparentes em que os seios aparecem.
Mas é
raro encontrar alguém na, digamos, vida civil usando as mesmas roupas, ou
roupas com a mesma transparência. Os seios não aparecem na mesma proporção
quando as roupas saem das passarelas para a realidade. Ou eu é que ando
frequentando a realidade errada?
Pode-se
argumentar que os desfiles são representações de um ideal impossível de ser
reproduzido no cotidiano. Num desfile de modas, todas as mulheres são lindas,
altas e magras. São, por assim dizer, mulheres destiladas, ou a mulher como ela
sonha ser – e andar, e brilhar, e vestir roupas caras.
Desta
maneira, os seios à mostra nos desfiles também seriam idealizações. Só seriam
seios reais se viessem junto com o vestido, e a mulher, usando sua transparência,
automaticamente ficasse com seios de manequim.
As
manequins são como aqueles desenhos nos cartões à sua frente nas poltronas dos
aviões, de pessoas ajustando o colete salva-vidas, colocando as máscaras de
oxigênio, assumindo a posição adequada para o caso de queda do avião, atirando-se
pelo tobogã para sair do avião acidentado – enfim, em situações de emergência.
E
nos cartões ninguém tem cara de quem está numa situação de emergência. Não estão
exatamente sorrindo, mas sua expressão é de quem enfrenta emergências com
naturalidade, até com uma certa indiferença. São pessoas que seguiriam as
instruções de respirar normalmente depois de colocar as máscaras de oxigênio – coisa
que você e eu nunca faríamos.
As
manequins são assim. Desfilam como se ser magnífica, com seios magníficos,
fosse uma coisa comum.
Na
vida real, poucas mulheres podem usar uma roupa cara como a roupa cara merece,
como manequins. Na vida real, ninguém respira normalmente com máscaras de oxigênio
caindo sobre sua cabeça.
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