07
de maio de 2012 | N° 17062
PAULO
SANT’ANA
A doença mais nefasta
Antigamente
não existia depressão. Não é que não existisse, mas não se definia a doença
como depressão.
Em
vez de depressão, a doença era chamada de melancolia. Só que melancolia era uma
bela palavra e por isso não se a considerava uma doença.
Um
melancólico, antigamente, era considerado um triste, mas havia um ingrediente
poético nessa palavra. Não era feio nem degradante ser melancólico, tinha até um
certo charme.
Até que
vieram os tempos terríveis em que foi diagnosticada e classificada a doença
chamada depressão. Uma das mais terríveis doenças mentais ou emocionais ou
psiquiátricas, como queiram.
Um
traço básico da depressão é que a pessoa que é alvo dela encerra-se num quarto
e não quer que ninguém entre no quarto. Quer sofrer em solidão absoluta.
O
depressivo não sente prazer em nada, nem no sexo. Aliás, não quer saber do sexo.
É como
diz o meu poeta Augusto dos Anjos:
Melancolia,
estende-me tua asa,
És a
árvore em que devo reclinar-me.
E,
se algum dia o prazer vier procurar-me,
Dize
a este monstro que eu fugi de casa.
Não é
só sexo que o depressivo rejeita. Depressivo não sente prazer em comer picanha
de angus, não sente nenhum gosto em camarão, bacalhau, lagosta.
A
comida, como qualquer prazer, não tem sentido nenhum para o depressivo.
A
maior tragédia da convivência humana é a presença de um depressivo numa festa. Ele
não vê sentido nenhum na alegria da festa, e as músicas que tocam, por mais
alegres que possam ser, ele as escuta como cantochões fúnebres.
Todo
e qualquer sorriso que brotar nos lábios de uma pessoa depressiva é forçado, é fingido,
é sofrido.
Não
há tormento emocional mais intenso e duradouro do que a depressão. Uma pessoa
com depressão pode trabalhar durante três anos, mas seu trabalho soará para ela
como uma escravidão, um labor forçado, algo que não lhe proporciona qualquer
deleite. E, como se sabe, trabalho sem gostar-se do que se faz é um martírio.
E o
depressivo não gosta de nada do que faz, não gosta de nada do que ouve, detesta
as cores, os sons e as palavras. Para ele, nada significa qualquer presença ao
seu redor e todas as notícias que chegam a ele são encaradas com desprezo pelo
desinteresse, pela simples razão de que o depressivo tem a certeza de que
nenhum acontecimento será capaz de alterar sua depressão.
Um
dos traços mais marcantes da depressão é que seu portador não sabe qual é a
origem da sua melancolia. Ele olha para o redor de sua vida e não vê causa
nenhuma para aquele seu derrubamento.
O
depressivo pode ser rico, o depressivo pode ter família realizada, sem
problemas, o depressivo pode ter excelente emprego, estar ganhando muito
dinheiro e ainda assim prossegue sua depressão.
O
fenômeno parece mesmo ser químico e não social. Tanto que, nos últimos 12 ou 15
anos, a ciência farmacêutica descobriu excelentes remédios para a depressão.
Bom
que isso tenha acontecido. E, mesmo com este novo arsenal de medicamentos
antidepressivos, muita gente recalcitra em depressão.
A
depressão é uma das maiores maldições que caíram sobre a raça humana.
Porque
a depressão é exatamente a vida não ter sentido.
E
vida sem sentido é pior que a morte.
A
morte, até que por ser recinto de paz definitiva, tem algum sentido.
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