06
de maio de 2012 | N° 17061
MARTHA
MEDEIROS
O dinheiro que grita
Todo
mundo quer ter dinheiro e não há nada de errado com isso, desde que seja
conquistado por mérito próprio, sem roubar de ninguém tampouco do município, do
Estado e da nação.
Dinheiro
limpo é bem-vindo: nos proporciona viagens, prazeres, conforto, cultura, saúde.
Saúde não apenas física, mas mental, e não estou falando do fato de poder pagar
um analista se for preciso, mas da tranquilidade de não ter dívidas. Uma pessoa
sem dívidas dorme melhor, pensa melhor, respira melhor.
Além
de limpo e honesto, dinheiro bom é dinheiro silencioso. Que não se exibe, não
se pavoneia, não aponta para si próprio dizendo: olhem eu aqui! Conheço milionários
que tem com o dinheiro uma relação discreta. Claro que moram bem, viajam,
possuem um bom carro, mas não ostentam, não botam seu dinheiro no sol para
brilhar e ofuscar os outros. O dinheiro tem que ser elegante como o seu dono. Ninguém
precisa lidar com o dinheiro como se fosse um bicheiro.
Mas é
como muitos lidam. Mesmo não abrindo a camisa para mostrar suas correntes
douradas nem transitando em limusines, ainda assim há quem não se importe que
seu dinheiro grite – aliás, até fazem questão de ter um dinheiro bem
marqueteiro.
São
mulheres que colocam todas as joias que possuem para ir a uma festa, usam
bolsas com monogramas gigantes, instalam chafarizes nas piscinas e compram os
dias de folga dos empregados porque não toleram a ideia de irem até a cozinha
buscar seu próprio copo d´água num domingo.
Homens
que andam em carros que valem uma cobertura, pets que vestem Prada, vinhos que
são escolhidos pelo preço e namoradas idem, que amor verdadeiro é coisa de
pobre.
O
rico que esnoba pessoas humildes tem um dinheiro que grita. O rico que trata a
todos com respeito e gentileza, tem um dinheiro silencioso.
O
rico que só gasta com grifes, tem um dinheiro que grita. O rico que investe
também no que é popular (e valoriza uma pechincha, por que não?) tem um
dinheiro silencioso.
O
rico que perdeu o prazer de apreciar as coisas gratuitas da vida, tem um
dinheiro que grita. O rico que não perdeu a conexão com aquilo que lhe dava
prazer quando não era tão rico, tem um dinheiro silencioso.
Quem
dificulta o acesso a si mesmo através de um sem número de assessores, guarda-costas,
secretários, agentes e demais bloqueadores humanos, tem um dinheiro que grita. Quem
segue disponível pro afeto, tem um dinheiro silencioso.
Costuma-se
diferenciar um do outro dizendo que um é o novo rico, e o outro, o rico de berço.
Pode ser. Quem nunca teve, se deslumbra. Reconheço que é muito bom viver bem e
poder pagar as próprias contas, tenham elas quantos dígitos tiverem. Mas
dinheiro deveria ser educado da mesma forma que um filho: nunca permita que ele
seja insolente e ruidoso.
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