VINICIUS
TORRES FREIRE
Muito santo, pouco
milagre
Mesmo
depois de muita injeção de vitamina com efeitos colaterais, PIB cresce a 2% ao
ano
AS
PREVISÕES para o crescimento da economia no segundo trimestre eram tão furadas
que a gente fica tentada a imaginar que o andar da carruagem do PIB possa ser
mais veloz daqui em diante.
A
tentação da esperança sempre é grande, se não humanamente vulgar, ainda mais
quando a turma dita pessimista dá uma bola tão fora, quando a gente é obrigada
a relembrar que estatísticas econômicas são um gênero tedioso de ficção
científica, segundo a "boutade" de Paul Krugman, Nobel de Economia.
Se
os economistas "do mercado", bastião do pessimismo, erraram tanto
quanto ao segundo trimestre, erro de 50%, na média, o resto do ano pode até ser
bom.
Só
que não.
Nem
deve ser bom, nem é bem esse o problema dos ditos pessimistas ponderados.
Para
começo de conversa, convém considerar em que pé estamos.
Em
12 meses (até junho), o Brasil cresceu 1,9%. É ruim, mas era pior no ano
passado. Em junho de 2012, crescêramos 0,9% (em 12 meses).
Mesmo
que a economia fique estagnada até o final do ano, o Brasil terá crescido então
2,5% em 2013, graças a mumunhas da estatística do PIB. Está frio ou está
quente?
O
problema mais imediato é que foi preciso muito santo para pouco milagre, muito
estímulo econômico para um resultado miudinho, de resto com efeitos colaterais.
A
taxa de juros real caiu de 4,5% ao ano no início de 2012 para 1,8% ao ano na
média de julho e para 1,5% em dezembro (agora, está em 3,8% e subindo. Acabou o
refresco).
A
poupança do governo (receita menos despesa, desconsiderados gastos com juros)
caiu de 3,1% do PIB em dezembro de 2011 para 1,9% em julho deste ano, para usar
a conta simplezinha. É contraproducente estropiar ainda mais as contas públicas
(nem é plano do governo fazê-lo em 2014).
O
governo fez dívida para colocar dezenas de bilhões de reais nos bancos públicos
a fim de vitaminar o crédito, ritmo de crescimento que não vai se repetir. O
BNDES empresta dinheiro a juro real zero.
Ainda
assim, estamos crescendo a 2% para 2,5% ao ano, com inflação rondando os 6%.
Não é mais possível usar tanto anabolizante.
De
resto, temos problemas novos, como o risco de o dólar engordar a inflação e a
alta de juros nos EUA.
Há
quem imagine que o governo não usou anabolizantes, mas fortificantes. A
economia teria padecido apenas de fraqueza momentânea; não sofreria de
problemas crônicos como falta de produtividade, mão de obra escassa,
infraestrutura precária, burocracia idiótica, falta de investimento público
etc.
O
pessimista ponderado acredita que a economia tem problemas ora crônicos:
precisa de tratamentos complicados, embora viáveis, não de Biotônico Fontoura.
O
pessimista ponderado não imagina que veremos recessões à moda dos anos 1980 ou
1990, nem quebras operísticas, daquelas de irmos ao FMI. Nem acredita que o
país pudesse ter crescido muito mais do que o fez nestes anos Dilma Rousseff. A
terapia, digamos, teria exigido repouso. Mas estaríamos prontos para andar um
pouco mais rápido em 2014.
O
pessimista ponderado se exaspera com a ideia de que, no ritmo atual, o Brasil
vai levar uns 50 anos para chegar ao nível de renda de um país como Portugal.
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