Leia a íntegra do discurso de
José Mujica na ONU
Presidente
uruguaio criticou o capitalismo e o individualismo em discurso que empolgou nas
Nações Unidas
Amigos,
sou do sul, venho do sul. Esquina do Atlântico e do Prata, meu país é uma
planície suave, temperada, uma história de portos, couros, charque, lãs e
carne. Houve décadas púrpuras, de lanças e cavalos, até que, por fim, no
arrancar do século 20, passou a ser vanguarda no social, no Estado, no Ensino.
Diria que a social-democracia foi inventada no Uruguai.
Durante
quase 50 anos, o mundo nos viu como uma espécie de Suíça. Na realidade, na
economia, fomos bastardos do império britânico e, quando ele sucumbiu, vivemos
o amargo mel do fim de mudanças funestas, e ficamos estancados, sentindo falta
do passado.
Quase
50 anos recordando o Maracanã, nossa façanha esportiva. Hoje, ressurgimos no
mundo globalizado, talvez aprendendo de nossa dor. Minha história pessoal, a de
um rapaz — porque, uma vez, fui um rapaz — que, como outros, quis mudar seu
tempo, seu mundo, o sonho de uma sociedade libertária e sem classes. Meus erros
são, em parte, filhos de meu tempo. Obviamente, os assumo, mas há vezes que
medito com nostalgia.
Quem
tivera a força de quando éramos capazes de abrigar tanta utopia! No entanto,
não olho para trás, porque o hoje real nasceu das cinzas férteis do ontem. Pelo
contrário, não vivo para cobrar contas ou para reverberar memórias.
Me
angustia, e como, o amanhã que não verei, e pelo qual me comprometo. Sim, é
possível um mundo com uma humanidade melhor, mas talvez, hoje, a primeira
tarefa seja cuidar da vida.
Mas
sou do sul e venho do sul, a esta Assembleia, carrego inequivocamente os
milhões de compatriotas pobres, nas cidades, nos desertos, nas selvas, nos
pampas, nas depressões da América Latina pátria de todos que está se formando.
Carrego
as culturas originais esmagadas, com os restos de colonialismo nas Malvinas,
com bloqueios inúteis a este jacaré sob o sol do Caribe que se chama Cuba.
Carrego as consequências da vigilância eletrônica, que não faz outra coisa que
não despertar desconfiança. Desconfiança que nos envenena inutilmente. Carrego
uma gigantesca dívida social, com a necessidade de defender a Amazônia, os
mares, nossos grandes rios na América.
Carrego
o dever de lutar por pátria para todos. Para que a Colômbia possa encontrar o
caminho da paz, e carrego o dever de lutar por tolerância, a tolerância é
necessária para com aqueles que são diferentes, e com os que temos diferenças e
discrepâncias. Não se precisa de tolerância com aqueles com quem estamos de
acordo.
A
tolerância é o fundamento de poder conviver em paz, e entendendo que, no mundo,
somos diferentes.
O
combate à economia suja, ao narcotráfico, ao roubo, à fraude e à corrupção,
pragas contemporâneas, procriadas por esse antivalor, esse que sustenta que
somos felizes se enriquecemos, seja como seja. Sacrificamos os velhos deuses
imateriais. Ocupamos o templo com o deus mercado, que nos organiza a economia,
a política, os hábitos, a vida e até nos financia em parcelas e cartões a
aparência de felicidade.
Parece
que nascemos apenas para consumir e consumir e, quando não podemos, nos
enchemos de frustração, pobreza e até autoexclusão.
O
certo, hoje, é que, para gastar e enterrar os detritos nisso que se chama pela
ciência de poeira de carbono, se aspirarmos nesta humanidade a consumir como um
americano médio, seriam imprescindíveis três planetas para poder viver.
Nossa
civilização montou um desafio mentiroso e, assim como vamos, não é possível
satisfazer esse sentido de esbanjamento que se deu à vida. Isso se massifica
como uma cultura de nossa época, sempre dirigida pela acumulação e pelo
mercado.
Prometemos
uma vida de esbanjamento, e, no fundo, constitui uma conta regressiva contra a
natureza, contra a humanidade no futuro. Civilização contra a simplicidade,
contra a sobriedade, contra todos os ciclos naturais.
O
pior: civilização contra a liberdade que supõe ter tempo para viver as relações
humanas, as únicas que transcendem: o amor, a amizade, aventura, solidariedade,
família.
Civilização
contra tempo livre que não é pago, que não se pode comprar, e que nos permite
contemplar e esquadrinhar o cenário da natureza.
Arrasamos
a selva, as selvas verdadeiras, e implantamos selvas anônimas de cimento.
Enfrentamos o sedentarismo com esteiras, a insônia com comprimidos, a solidão
com eletrônicos, porque somos felizes longe da convivência humana.
Cabe
se fazer esta pergunta, ouvimos da biologia que defende a vida pela vida, como
causa superior, e a suplantamos com o consumismo funcional à acumulação.
A
política, eterna mãe do acontecer humano, ficou limitada à economia e ao
mercado. De salto em salto, a política não pode mais que se perpetuar, e, como
tal, delegou o poder, e se entretém, aturdida, lutando pelo governo. Debochada
marcha de historieta humana, comprando e vendendo tudo, e inovando para poder
negociar de alguma forma o que é inegociável.
Há
marketing para tudo, para os cemitérios, os serviços fúnebres, as maternidades,
para pais, para mães, passando pelas secretárias, pelos automóveis e pelas
férias. Tudo, tudo é negócio.
Todavia,
as campanhas de marketing caem deliberadamente sobre as crianças, e sua
psicologia para influir sobre os adultos e ter, assim, um território assegurado
no futuro. Sobram provas de essas tecnologias bastante abomináveis que, por
vezes, conduzem a frustrações e mais.
O
homenzinho médio de nossas grandes cidades perambula entre os bancos e o tédio
rotineiro dos escritórios, às vezes temperados com ar condicionado. Sempre
sonha com as férias e com a liberdade, sempre sonha com pagar as contas, até
que, um dia, o coração para, e adeus. Haverá outro soldado abocanhado pelas
presas do mercado, assegurando a acumulação. A crise é a impotência, a
impotência da política, incapaz de entender que a humanidade não escapa nem
escapará do sentimento de nação. Sentimento que está quase incrustado em nosso
código genético.
Hoje
é tempo de começar a talhar para preparar um mundo sem fronteiras. A economia
globalizada não tem mais condução que o interesse privado, de muito poucos, e
cada Estado Nacional mira sua estabilidade continuísta, e hoje a grande tarefa
para nossos povos, em minha humilde visão, é o todo.
Como
se isto fosse pouco, o capitalismo produtivo, francamente produtivo, está meio
prisioneiro na caixa dos grandes bancos. No fundo, são o vértice do poder
mundial. Mais claro, cremos que o mundo requer a gritos regras globais que
respeitem os avanços da ciência, que abunda. Mas não é a ciência que governa o
mundo. Se precisa, por exemplo, uma larga agenda de definições, quantas horas
de trabalho e toda a terra, como convergem as moedas, como se financia a luta
global pela água e contra os desertos.
Como
se recicla e se pressiona contra o aquecimento global. Quais são os limites de
cada grande questão humana. Seria imperioso conseguir consenso planetário para
desatar a solidariedade com os mais oprimidos, castigar impositivamente o
esbanjamento e a especulação.
Mobilizar
as grandes economias não para criar descartáveis com obsolescência calculada,
mas bens úteis, sem fidelidade, para ajudar a levantar os pobres do mundo. Bens
úteis contra a pobreza mundial. Mil vezes mais rentável que fazer guerras.
Virar um neo-keynesianismo útil, de escala planetária, para abolir as vergonhas
mais flagrantes deste mundo.
Talvez
nosso mundo necessite menos de organismos mundiais, desses que organizam fórums
e conferências, que servem muito às cadeias hoteleiras e às companhias aéreas
e, no melhor dos casos, não reúne ninguém e transforma em decisões...
Precisamos
sim mascar muito o velho e o eterno da vida humana junto da ciência, essa
ciência que se empenha pela humanidade não para enriquecer; com eles, com os
homens de ciência da mão, primeiros conselheiros da humanidade, estabelecer
acordos para o mundo inteiro. Nem os Estados nacionais grandes, nem as
transnacionais e muito menos o sistema financeiro deveriam governar o mundo
humano.
Sim,
a alta política entrelaçada com a sabedoria científica, ali está a fonte. Essa
ciência que não apetece o lucro, mas que mira o por vir e nos diz coisas que
não escutamos. Quantos anos faz que nos disseram coisas que não entendemos?
Creio que se deve convocar a inteligência ao comando da nave acima da terra,
coisas assim e coisas que não posso desenvolver nos parecem impossíveis, mas
requeririam que o determinante fosse a vida, não a acumulação.
Obviamente,
não somos tão iludidos, nada disso acontecerá, nem coisas parecidas. Nos restam
muitos sacrifícios inúteis daqui para diante, muitos remendos de consciência
sem enfrentar as causas. Hoje, o mundo é incapaz de criar regras planetárias
para a globalização e isso é pela enfraquecimento da alta política, isso que se
ocupa de todo.
Por
último, vamos assistir ao refúgio de acordos mais ou menos
"reclamáveis", que vão plantear um comércio interno livre, mas que,
no fundo, terminarão construindo parapeitos protecionistas, supranacionais em
algumas regiões do planeta. A sua vez, crescerão ramos industriais importantes
e serviços, todos dedicados a salvar e a melhorar o meio ambiente. Assim vamos
nos consolar por um tempo, estaremos entretidos e, naturalmente, continuará a
parecer que a acumulação é boa, para a alegria do sistema financeiro.
Continuarão
as guerras e, portanto, os fanatismos, até que, talvez, a mesma natureza faça
um chamado à ordem e torne inviáveis nossas civilizações. Talvez nossa visão
seja demasiado crua, sem piedade, e vemos ao homem como uma criatura única, a
única que há acima da terra capaz de ir contra sua própria espécie.
Volto
a repetir, porque alguns chamam a crise ecológica do planeta de consequência do
triunfo avassalador da ambição humana. Esse é nosso triunfo e também nossa
derrota, porque temos impotência política de nos enquadrarmos em uma nova
época. E temos contribuído para sua construção sem nos dar conta.
Por
que digo isto? São dados, nada mais. O certo é que a população quadruplicou e o
PIB cresceu pelo menos vinte vezes no último século. Desde 1990,
aproximadamente a cada seis anos o comércio mundial duplica. Poderíamos seguir
anotando dados que estabelecem a marcha da globalização.
O
que está acontecendo conosco? Entramos em outra época aceleradamente, mas com
políticos, enfeites culturais, partidos e jovens, todos velhos ante a pavorosa
acumulação de mudanças que nem sequer podemos registrar. Não podemos manejar a
globalização porque nosso pensamento não é global. Não sabemos se é uma
limitação cultural ou se estamos chegano a nossos limites biológicos.
Nossa
época é portentosamente revolucionária como não conheceu a história da
humanidade. Mas não tem condução consciente, ou ao menos condução simplesmente
instintiva. Muito menos, todavia, condução política organizada, porque nem se
quer tivemos filosofia precursora ante a velocidade das mudanças que se
acumularam.
A
cobiça, tão negativa e tão motor da história, essa que impulsionou o progresso
material técnico e científico, que fez o que é nossa época e nosso tempo e um
fenomenal avanço em muitas frentes, paradoxalmente, essa mesma ferramenta, a
cobiça que nos impulsionou a domesticar a ciência e transformá-la em tecnologia
nos precipita a um abismo nebuloso.
A
uma história que não conhecemos, a uma época sem história, e estamos ficando
sem olhos nem inteligência coletiva para seguir colonizando e para continuar
nos transformando. Porque se há uma característica deste bichinho humano é a de
que é um conquistador antropológico.
Parece
que as coisas tomam autonomia e essas coisas subjugam os homens. De um lado a outro,
sobram ativos para vislumbrar tudo isso e para vislumbrar o rombo. Mas é
impossível para nós coletivizar decisões globais por esse todo. A cobiça
individual triunfou grandemente sobre a cobiça superior da espécie.
Aclaremos:
o que é "tudo", essa palavra simples, menos opinável e mais evidente?
Em nosso Ocidente, particularmente, porque daqui viemos, embora tenhamos vindo
do sul, as repúblicas que nasceram para afirmas que os homens são iguais, que
ninguém é mais que ninguém, que os governos deveriam representar o bem comum, a
justiça e a igualdade. Muitas vezes, as repúblicas se deformam e caem no
esquecimento da gente que anda pelas ruas, do povo comum.
Não
foram as repúblicas criadas para vegetar, mas ao contrário, para serem um grito
na história, para fazer funcionais as vidas dos próprios povos e, por tanto, as
repúblicas que devem às maiorias e devem lutar pela promoção das maiorias.
Seja
o que for, por reminiscências feudais que estão em nossa cultura, por classismo
dominador, talvez pela cultura consumista que rodeia a todos, as repúblicas
frequentemente em suas direções adotam um viver diário que exclui, que se
distância do homem da rua.
Esse
homem da rua deveria ser a causa central da luta política na vida das
repúblicas. Os governos republicanos deveriam se parecer cada vez mais com seus
respectivos povos na forma de viver e na forma de se comprometer com a vida.
A
verdade é que cultivamos arcaísmos feudais, cortesias consentidas, fazemos
diferenciações hierárquicas que, no fundo, amassam o que têm de melhor as
repúblicas: que ninguém é mais que ninguém. O jogo desse e de outros fatores
nos retém na pré-história. E, hoje, é impossível renunciar à guerra quando a
política fracassa. Assim, se estrangula a economia, esbanjamos recursos.
Ouçam
bem, queridos amigos: em cada minuto no mundo se gastam US$ 2 milhões em ações
militares nesta terra. Dois milhões de dólares por minuto em inteligência
militar!! Em investigação médica, de todas as enfermidades que avançaram
enormemente, cuja cura dá às pessoas uns anos a mais de vida, a investigação
cobre apenas a quinta parte da investigação militar.
Este
processo, do qual não podemos sair, é cego. Assegura ódio e fanatismo,
desconfiança, fonte de novas guerras e, isso também, esbanjamento de fortunas.
Eu sei que é muito fácil, poeticamente, autocriticarmo-nos pessoalmente. E
creio que seria uma inocência neste mundo plantear que há recursos para
economizar e gastar em outras coisas úteis. Isso seria possível, novamente, se
fôssemos capazes de exercitar acordos mundiais e prevenções mundiais de
políticas planetárias que nos garantissem a paz e que a dessem para os mais
fracos, garantia que não temos.
Aí
haveria enormes recursos para deslocar e solucionar as maiores vergonhas que
pairam sobre a Terra. Mas basta uma pergunta: nesta humanidade, hoje, onde se
iria sem a existência dessas garantias planetárias? Então cada qual esconde
armas de acordo com sua magnitude, e aqui estamos, porque não podemos
raciocinar como espécie, apenas como indivíduos.
As instituições
mundiais, particularmente hoje, vegetam à sombra consentida das dissidências
das grandes nações que, obviamente, querem reter sua cota de poder.
Bloqueiam
esta ONU que foi criada com uma esperança e como um sonho de paz para a
humanidade. Mas, pior ainda, desarraigam-na da democracia no sentido planetário
porque não somos iguais. Não podemos ser iguais nesse mundo onde há mais fortes
e mais fracos. Portanto, é uma democracia ferida e está cerceando a história de
um possível acordo mundial de paz, militante, combativo e verdadeiramente
existente. E, então, remendamos doenças ali onde há eclosão, tudo como agrada a
algumas das grandes potências. Os demais olham de longe. Não existimos.
Amigos,
creio que é muito difícil inventar uma força pior que nacionalismo chovinista
das grandes potências. A força é que liberta os fracos. O nacionalismo, tão pai
dos processos de descolonização, formidável para os fracos, se transforma em
uma ferramenta opressora nas mãos dos fortes e, nos últimos 200 anos, tivemos
exemplos disso por toda a parte.
A
ONU, nossa ONU, enlanguece, se burocratiza por falta de poder e de autonomia,
de reconhecimento e, sobretudo, de democracia para o mundo mais fraco que
constitui a maioria esmagadora do planeta. Mostro um pequeno exemplo,
pequenino. Nosso pequeno país tem, em termos absolutos, a maior quantidade de
soldados em missões de paz em todos os países da América Latina.
E
ali estamos, onde nos pedem que estejamos. Mas somos pequenos, fracos. Onde se
repartem os recursos e se tomam as decisões, não entramos nem para servir o
café. No mais profundo de nosso coração, existe um enorme anseio de ajudar para
que o homem saia da pré-história. Eu defino que o homem, enquanto viver em
clima de guerra, está na pré-história, apesar dos muitos artefatos que possa
construir.
Até
que o homem não saia dessa pré-história e arquive a guerra como recurso quando
a política fracassa, essa é a larga marcha e o desafio que temos daqui adiante.
E o dizemos com conhecimento de causa. Conhecemos a solidão da guerra.
No
entanto, esses sonhos, esses desafios que estão no horizonte implicam lutar por
uma agenda de acordos mundiais que comecem a governar nossa história e superar,
passo a passo, as ameaças à vida. A espécie como tal deveria ter um governo
para a humanidade que superasse o individualismo e primasse por recriar cabeças
políticas que acudam ao caminho da ciência, e não apenas aos interesses
imediatos que nos governam e nos afogam.
Paralelamente,
devemos entender que os indigentes do mundo não são da África ou da América
Latina, mas da humanidade toda, e esta deve, como tal, globalizada, empenhar-se
em seu desenvolvimento, para que possam viver com decência de maneira autônoma.
Os recursos necessários existem, estão neste depredador esbanjamento de nossa
civilização.
Há
poucos dias, fizeram na Califórnia, em um corpo de bombeiros, uma homenagem a
uma lâmpada elétrica que está acesa há cem anos. Cem anos que está acesa,
amigo! Quantos milhões de dólares nos tiraram dos bolsos fazendo deliberadamente
porcarias para que as pessoas comprem, comprem, comprem e comprem.
Mas
esta globalização de olhar para todo o planeta e para toda a vida significa uma
mudança cultural brutal. É o que nos requer a história. Toda a base material
mudou e cambaleou, e os homens, com nossa cultura, permanecem como se não
houvesse acontecido nada e, em vez de governarem a civilização, deixam que ela
nos governe.
Há
mais de 20 anos que discutimos a humilde taxa Tobin. Impossível aplicá-la no
tocante ao planeta. Todos os bancos do poder financeiro se irrompem feridos em
sua propriedade privada e sei lá quantas coisas mais. Mas isso é paradoxal.
Mas, com talento, com trabalho coletivo, com ciência, o homem, passo a passo, é
capaz de transformar o deserto em verde.
O
homem pode levar a agricultura ao mar. O homem pode criar vegetais que vivam na
água salgada. A força da humanidade se concentra no essencial. É
incomensurável. Ali estão as mais portentosas fontes de energia. O que sabemos
da fotossíntese? Quase nada. A energia no mundo sobra, se trabalharmos para
usá-la bem.
É
possível arrancar tranquilamente toda a indigência do planeta. É possível criar
estabilidade e será possível para as gerações vindouras, se conseguirem
raciocinar como espécie e não só como indivíduos, levar a vida à galáxia e
seguir com esse sonho conquistador que carregamos em nossa genética.
Mas,
para que todos esses sonhos sejam possíveis, precisamos governar a nos mesmos,
ou sucumbiremos porque não somos capazes de estar à altura da civilização em
que fomos desenvolvendo.
Este
é nosso dilema. Não nos entretenhamos apenas remendando consequências. Pensemos
na causa profundas, na civilização do esbanjamento, na civilização do usa-tira
que rouba tempo mal gasto de vida humana, esbanjando questões inúteis.
Pensem
que a vida humana é um milagre. Que estamos vivos por um milagre e nada vale
mais que a vida. E que nosso dever biológico, acima de todas as coisas, é
respeitar a vida e impulsioná-la, cuidá-la, procriá-la e entender que a espécie
é nosso "nós".
Obrigado.
Tradução:
Fernanda Grabauska
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