26
de setembro de 2013 | N° 17565
PAULO
SANT’ANA
A última
lágrima
Definitivamente,
não compareço mais a cerimônias de casamento, por mais que me insistam os
invitantes.
Recuso-me,
portanto, a partir de hoje, a comparecer a pompas fúnebres. Há certas burrices
que para serem pronunciadas necessitam de habilidade e destreza de seus
autores. Depois de escrever os dois tópicos anteriores, eu deveria
aposentar-me.
Não
quero me comparar aos autores célebres, mas Baudelaire tinha de ter-se aposentado
depois de escrever As Flores do Mal, o mesmo com Tolstoi ao ter escrito Guerra
e Paz.
O
homem tem de saber a hora de parar.
Acho
que esta mesma curiosidade domina grande parte das pessoas: saber como seria
seu enterro. Será que haverá pessoas chorosas no meu enterro? E, entre elas,
mulheres que tivessem me amado na vida ou secretamente?
Quem
levaria flores ao meu féretro e as depositaria junto de meu corpo no caixão?
Ou,
então, não haveria choro nem vela, e meu enterro, sem o comparecimento de ninguém,
se tornaria o meu último e retumbante fracasso?
Da
minha parte, se comparecesse ao meu enterro um reduzido número de pessoas, eu
desejaria que no entanto houvesse um recital de violão no meu féretro, também
um solo de clarinete estimo imprescindível.
E,
se houvesse a suspeita de que ninguém choraria no meu enterro, algum amigo rico
tinha de contratar umas 20 carpideiras para chorar durante as exéquias.
E eu
também quereria, se não fosse exigir demais, que uma mulher, a que mais amei em
toda a minha vida, comparecesse esquiva ao meu enterro, pálida visão que entre
os sepulcros erra, e derramasse ela sobre o meu caixão a sua última lágrima.
E,
finalmente, que meu caixão descesse ao sepulcro sob o som de Rosa, do
Pixinguinha, e Brasa, do Lupicínio Rodrigues. E, depois que meu corpo fosse
coberto de terra, não seria demais pedir que algum amigo recitasse Augusto dos
Anjos:
E
saí para ver a Natureza.
Em
tudo o mesmo abismo de beleza,
Nem
uma névoa no estrelado véu.
E
pareceu-me entre as estrelas flóreas,
Como
Elias num carro azul de glórias,
Ver
a alma de Pablo subindo ao céu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário