25
de setembro de 2013 | N° 17564
PAULO
SANT’ANA
Sala Verde
Recebo
e transcrevo para que se tenha noção da calamidade que virou o tratamento de saúde
entre nós: “Por favor, transcrevam isso! Pessoas atendidas na emergência do
Hospital Conceição de Porto Alegre e que não correm risco de vida ficam num
corredor chamado ‘sala verde’, permanecendo sentadas em cadeiras por até oito, 10
dias. Meu Deus, como se consegue dormir em uma cadeira por tanto tempo?
Vi
uma senhora de 84 anos com pneumonia e outra também idosa, que aguardava ser
operada de tumor no ovário, aguardando leito, dias e dias sentadas. Creio que
até nos campos de concentração era permitido deitar para dormir, mesmo que
fosse em tábuas.
A
chamada ‘sala verde’ é um corredor que está sempre cheio de pacientes (ou
impacientes) angustiados. Somente familiar é permitido no horário de visita (meia
hora), e normalmente sai abatido pela situação. O inferno existe, eu vi, e ele
foi criado pelo homem. O DEMÔNIO deve estar preocupado, pois tem gente que
consegue ser pior do que ele. (ass.)
Mauro Lazzarotto (54-99278724) mauro.spebilar@terra.com.br – Bento Gonçalves (RS)”.
A
mensagem transcrita acima é apenas um relato da realidade sanitária brasileira.
Notem
que é um caos o atendimento descrito. Mas pior do que isso é o não atendimento.
Esses pacientes que esperam por 10 dias num corredor do hospital citado pelo
menos são atendidos, demoram 10 dias num corredor de aflição e são atendidos.
E os
que não são atendidos? Esses apodrecem em espera em seus lares.
Nesse
particular, mando daqui meus elogios e agradecimentos aos atendentes do
Hospital Conceição, que sabe Deus quanto sofrem para atender esses pacientes
aflitos e semiabandonados.
Por
sinal, o Hospital Conceição se gaba com justiça e propriedade de que lá todos
os pacientes são atendidos. Atendem aos trancos e barrancos, mas atendem. Isso é
o que se pode chamar, neste caos da saúde, de um hospital digno.
E o
governo continua financiando estádios onde vai se realizar a Copa do Mundo no
Brasil.
Um
país que organiza uma Copa do Mundo gastando bilhões de reais e ao mesmo tempo
abandona seus habitantes ao descaso nos corredores dos hospitais ou à morte sem
atendimento é um país que não tem vergonha na cara.
Nesta
quadra triste da história brasileira, em que milhões de pessoas acorrem aos
postos de saúde e aos hospitais e não são atendidas, ficando mutiladas ou
morrendo doentes, pelo menos me resta um pequeno consolo: eu não silenciei
diante desse holocausto, eu usei a tribuna que tinha para denunciar esse
gigantesco atropelo à razão e à justiça.
Não
calei e vou continuar não me calando.
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