21 de setembro de 2013 | N°
17560
EDITORIAIS ZH
AS PRESSÕES SÃO LEGÍTIMAS
O julgamento dos embargos infringentes
interpostos por réus do mensalão frustrou muita gente, mas foi uma
lição de democracia para o país. Houve, sim, uma enorme pressão
popular sobre os ministros do Supremo, especialmente sobre o
magistrado encarregado do voto de Minerva. Desta vez, as multidões
não foram às ruas, como ocorreu nas manifestações de junho, mas
as redes sociais e a imprensa independente que atua como
representação informal dos cidadãos nos regimes democráticos
posicionaram-se majoritariamente pela rejeição dos recursos e pela
aplicação imediata das penas impostas aos condenados.
Ninguém pode ter dúvida de que o
tribunal ouviu, sim, a voz da opinião pública, mas manteve sua
autonomia e optou pelo tecnicismo legal, que possibilitará a delonga
do processo por tempo indeterminado e, muito provavelmente, a redução
de penas para alguns réus.
Isso só comprova a legitimidade das
pressões, sejam elas feitas diretamente pelos cidadãos por meio de
manifestações públicas, sejam elas feitas pela mídia. Os veículos
de comunicação responsáveis tentam interpretar a vontade dos seus
públicos.
Nas democracias, a mídia, tanto quanto
outros setores da sociedade, tem todo o direito de questionar as
instituições públicas, os governantes e os políticos em geral, da
mesma forma como também pode – e deve – ser questionada em
relação à qualidade de seus serviços e à precisão de suas
informações. Embora alguns governantes e ocupantes de cargos
públicos tenham dificuldade para aceitar críticas, a imprensa
costuma refletir as visões da sociedade.
E parece inquestionável que os
brasileiros estão insatisfeitos com o funcionamento das
instituições, especialmente das públicas. Depois das manifestações
de junho, o Ibope constatou que 18 instituições pesquisadas
perderam pontos na confiança dos brasileiros.
Os partidos políticos apareceram como
campeões do descrédito, seguidos no ranking da desconfiança pelo
Congresso Nacional, pelo sistema público de saúde, pelos
sindicatos, pelos governos municipais, sistema eleitoral, governo
federal, presidente da República, Judiciário, escola pública,
bancos, polícia e organizações da sociedade civil – todos com
menos de 50% de aprovação. Na parte de cima do ranking, mas também
sofrendo alguma queda de confiança, estão bombeiros, igrejas,
forças armadas, meios de comunicação e empresas.
Os protestos de rua, como se sabe,
mexeram com todas essas instituições. Algumas reagiram com medidas
concretas, outras ainda buscam alternativas para aperfeiçoar seus
serviços e produtos, mas também se percebe que, passada a pressão
inicial, algumas voltaram ao imobilismo e às práticas de sempre.
Neste contexto, cabe aos cidadãos,
investidos de seus direitos constitucionais, avaliar quais
instituições públicas e privadas os estão representando
satisfatoriamente. E continuar cobrando eficiência, transparência e
ética.
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