sexta-feira, 20 de setembro de 2013


20 de setembro de 2013 | N° 17559
DAVID COIMBRA

Para que serve o dinheiro

Não acredito mais no dinheiro. Acreditei, um dia. Meu consolo é que quase todas as pessoas acreditam. A esquerda acha que o problema da maioria das pessoas é a falta de dinheiro causada pela ganância da minoria que tem muito dinheiro. A direita acha que, mesmo que uns tenham mais do que outros, quanto mais dinheiro, mais fácil será a solução de qualquer problema.

É verdade que ter algum dinheiro é importante. Traz conforto e permite que você faça grande parte das coisas que deseja fazer. Mas os problemas que mais afligem os seres humanos não são resolvidos pelo dinheiro.

Pegue São Paulo. Volta e meia, vou a São Paulo. Que cidade triste. Uma cidade indoor. Uma cidade para dentro, em que as ruas foram feitas para o automóvel. Nos finais de semana, os paulistanos anseiam pela rua que lhes é negada. Correm para o Ibirapuera. E ficam mais de uma hora numa fila de carros, esperando por vaga no estacionamento do parque.

A grana do Brasil está em São Paulo, e com grana São Paulo tenta resolver seus problemas. Contrata os melhores arquitetos para levantar do chão surpresas de ferro e concreto, paga com generosidade por toda a beleza que os artistas possam produzir, patrocina as festas mais excitantes. Tudo inútil. Nada disso vale uma única tarde de preguiça debaixo do sol.

As pessoas não são mais felizes com mais carros, mais tecnologia e mais opções de lazer. Você pode ter todo o prazer e todo o gozo, sem ter nenhuma satisfação. Se você passa a vida lutando pelo dinheiro, você pode se tornar como São Paulo: rico e triste.

Porto Alegre decerto que não é rica, mas submeteu-se ao dinheiro. Ao uso pouco sábio do dinheiro. Era uma cidade de pessoas que moravam no subúrbio e se encontravam no Centro. A vida da cidade pulsava na Rua da Praia.

Seus personagens e suas histórias aconteciam na Rua da Praia, entre meios-fios, ao rés do chão. Hoje, Porto Alegre não se faz mais a pé. Porto Alegre saiu da calçada e passou a rodar no asfalto. É uma cidade com mais carros, mais tecnologia, mais prédios, mais dinheiro e menos convivência, e menos alegria. De que adianta?


Dinheiro, dinheiro, as coisas importantes da vida não podem ser compradas com dinheiro.

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