sexta-feira, 27 de setembro de 2013


27 de setembro de 2013 | N° 17566
DAVID COIMBRA

Uma coisa brilhante na calçada

Outro dia, caminhava de mãos dadas com meu filho e vimos um brinco caído na calçada.

Antes de prosseguir, preciso dizer que gosto muito de caminhar de mãos dadas com meu filho. Ao segurar-lhe a mão de menino, sinto como se pudesse protegê-lo de todos os males do mundo. Uma ilusão boba, claro que sim, mas esse momento, para mim, é de intensa paternidade, e uma das poucas coisas de que sinto real orgulho é de ser pai.

Com essa informação, o leitor perceberá o tamanho da minha insignificância. Qualquer um pode ser pai, sempre houve pais no mundo, há bilhões de pais por aí, e é essa condição trivial que me faz sentir orgulho. Quisera eu ser um paladino da justiça, um defensor dos oprimidos, um mobilizador de multidões, um talento genial em qualquer coisa. Não sou. Sou apenas pai. Um pai banal. E o pior é que gosto disso. Isso me satisfaz. Cada qual com suas limitações.

Mas o brinco. Era um brinco de mulher de forma ovalada, do tamanho de uma moeda de um real. Faiscava num desvão da calçada. Um único brinco, seu par não cintilava pelas cercanias, suponho que balançasse solitário do lóbulo da orelha de sua dona, onde quer que ela estivesse.

Agachei-me, colhi o brinco do chão e dei para o meu filho. Ele ficou a analisá-lo. Nesse momento, já tinha se despegado da minha mão. Isso me incomoda um pouco: quando ele pode, se solta da minha mão. Eu ali, pensando em protegê-lo, pensando na paternidade e tudo mais, e ele querendo independência aos seis anos de idade. Francamente.

De qualquer modo, o que interessa é o brinco. Não devia ser valioso. Não sou conhecedor de joias, mas aquele brinco dava a impressão de ser uma reles bijuteria. Quanto custaria? Cem reais? Duzentos? Não faço ideia.

Meu filho sorria enquanto examinava o brinco, e sorrindo olhou para cima, fitou-me nos olhos e disse:

– Vamos dar para a mamãe?

Antes que eu respondesse, ele tornou a olhar para o brinco, colocou-o com cuidado no bolso da jaqueta, e comentou:

– Ela vai adorar. As mulheres adoram coisas brilhantes...


Com essa conclusão, olhou para a frente e fez o que eu queria, mas não esperava: pegou na minha mão. Seguimos caminhando, pai e filho, ele sorrindo, satisfeito, e eu pensando que ele tinha razão: as mulheres adoram coisas brilhantes.

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