sexta-feira, 13 de setembro de 2013


13 de setembro de 2013 | N° 17552
GOL DE LETRA | DAVID COIMBRA

A minha cidade-sorriso

Beleza, cara! Nós precisamos de beleza. A gente não quer só comida; a gente quer comida, diversão e arte. E outras coisas mais.

Não é uma reivindicação elitista. Ao contrário. Quem tem dinheiro pode buscar a beleza onde a beleza está. Mas o pobre... O pobre não tem como fugir do ambiente em que foi posto no mundo. Por isso, a beleza da cidade é mais importante para o pobre do que para o rico.

Veja o Rio de Janeiro. No Rio de Janeiro, com R$ 20, uma bermuda e um chinelo de dedo você pode viver um dia maravilhoso. Você puxará o lençol até o pescoço, na sua cama, à noite, sorrirá debilmente e dirá para si mesmo: a vida é boa...

A vida é boa mesmo, e no Rio é melhor. Graças à beleza. Só que ninguém reivindica a beleza. Em junho, a classe média brasileira foi às ruas para pedir melhor transporte público, saúde e educação. Muito legítimo. Mas não basta.

Eu, se fosse prefeito, eu sei o que faria. Eu daria um jeito de proibir todos os outdoors e cartazes da cidade. Todos. Eu enterraria todos os postes e seus fios. Limparia a paisagem. Daria paz ao olhar.

Mas, além disso, daria incentivo fiscal a todos os cidadãos que repintassem suas casas ou edifícios. Não com cores em tom pastel, como são os prédios de Porto Alegre. Nada desse bege desmaiado, desse cinza soturno. Nada dessas cores amenas, que, com o tempo, tornam-se tão somente encardidas.

Não.

As casas de Porto Alegre seriam pintadas com o azul do céu da Praia Brava, um azul celeste, é óbvio, mas intenso, profundo, de fazer sonhar. Ou seriam de um azul-marinho do mar imenso, de noite estrelada. O vermelho seria sangue, ou carmesim, ou púrpura, da cor do manto dos reis do passado. Indispensáveis, também, seriam esses tons que confundo com o roxo: o fúcsia, o violeta e o magenta. E, claro, o lilás, como os olhos da Elizabeth Taylor.

Falando em olhos... O verde dos olhos de uma deusa dourada do amor, de uma Vênus, de uma Afrodite, esse verde teria de reluzir dos arranha-céus do Centro. Não o verde pálido, de folha caída no outono. Nada disso. Teria de seu um verde onde você mergulha e não quer mais sair.

Marrom? Não, marrom não. Marrom é uma cor desanimada, e o Rei Roberto Carlos foge de tudo que é marrom. Amarelo, sim, desde que fosse da cor da penugem dos canarinhos. E o laranja eu só permitiria se fosse o laranja dos girassóis de Van Gogh, luminoso e faiscante.


E assim seria a cidade, uma cidade solar, alegre, onde as pessoas viveriam com um sorriso nos olhos e onde, mesmo sem dinheiro, mesmo tendo de enfrentar as vicissitudes incontornáveis da vida, elas pudessem, simplesmente, passar um dia feliz.

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