21 de setembro de 2013 | N°
17560
PALAVRA DE MÉDICO | J.J. CAMARGO
OUTRAS CARAS DA SOLIDÃO
Provavelmente a mais inevitável das
solidões é a dos poderosos. Toda tomada de decisão que resulte em
algum impacto na vida dos outros implica um exercício de poder, e
este é tenso, muitas vezes doloroso, e sempre solitário.
Dessa forma insuspeita de sofrimento
estão livres todas as pessoas que se limitam a seguir as
recomendações, sem nem o compromisso de questioná-las.
Mas, de qualquer forma, a grande massa
é formada por seres gregários que, desde sempre, buscam a interação
com seus semelhantes. Os primevos já faziam isso para se proteger e
para procriar. Mas, afora esses instintos mais elementares, a busca
do outro para a complementação de objetivos e realização de
anseios de felicidade sempre marcou o comportamento da raça humana.
Mas não se pense que a solidão é
sempre perniciosa. Não, muitas vezes ela é ótima, e outras tantas,
indispensável.
Muitas pessoas, vitimadas por
relacionamentos opressivos, castigadas por parceiros dominantes, só
têm chance de recuperar a identidade perdida ou atropelada, se
lograrem um período de isolacionismo, que permita a reciclagem dos
seus valores e a redefinição de suas metas e objetivos de vida.
Por outro lado, muitos indivíduos
vivem solitários e não se queixam disso. Pelo contrário, se
lamentam da falta de sossego quando, por alguma circunstância
familiar, são obrigados a um convívio que lhes parece invasivo e
ruidoso.
Outros estão sempre rodeados de
multidões de amigos, muitos transitórios e fugazes, num renovar de
afetos que sugere mais carência afetiva do que capacidade ilimitada
de conquista e sedução.
Mudou a sociedade, que se tornou mais
egoísta e competitiva, mas sempre existiram e existirão amigos
sinceros, entremeados com os oportunistas, que podem parecer bons
companheiros, mas serão desmascarados quando surgir a primeira
adversidade e com ela a necessidade da primeira ajuda.
A nossa juventude parece menos afeita
ao relacionamento afetuoso e se empenha na interação virtual que
nunca se materializa, tentando compensar a falta de ombros calorosos
e fraternos com monitores coloridos mas insensíveis. Uma pena que
não se consiga colocar afeto numa tela, mesma que ela ofereça o
fascínio da tridimensão. Mas a garotada, com certeza se recuperará.
E tomara que não gaste tanto tempo para descobrir que nenhum
software conseguirá substituir a magia do abraço.
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