13
de setembro de 2013 | N° 17552
ARTIGOS
- JULIO DORNELLES DE MATOS*
Há fraude na saúde,
sim!
Oprograma
Fantástico do último domingo veiculou notícia sobre fraudes em alguns hospitais
do país, cujo conteúdo é motivo de indignação. No entanto, sabe-se que são
notícias requentadas, pontuais e, se verdadeiras, deveriam ter sido punidas
exemplarmente, adotando-se eficaz sistema de fiscalização.
O
que surpreende é o momento em que esse assunto é divulgado, quando a população
pede mais saúde e quando as santas casas e hospitais filantrópicos brasileiros
clamam por uma resposta de sobrevivência no relacionamento deficitário com o
SUS. Existe fraude na saúde, sim. Porém, a fraude verdadeira está na falta de
gestão pública do setor, pelas práticas reiteradas de políticas temporárias,
caracterizadas como de governo e/ou ministros e não de Estado.
Vive-se
de programa em programa, de incentivo em incentivo. Há fraude na saúde, sim.
Milhões de brasileiros não conseguem acessar os serviços de saúde, adoecem e
acabam superlotando as emergências, tudo por falta de estruturas públicas que
deem respostas nos tempos certos.
Exemplo
publicado nesta semana, de que 10 mil pacientes aguardam na fila, em Porto
Alegre, por acesso a especialidade de ortopedia. Esta realidade é de todo o
país. Há fraude na saúde, sim. Para manter instituições públicas, o governo
paga oito vezes mais do que para manter as instituições sem fins lucrativos,
estas com certeza centenárias e dedicadas à sociedade como missão de origem.
Há
fraude na saúde, sim. No brutal subfinanciamento imposto a quem presta serviços
ao SUS. O segmento hospitalar filantrópico amarga, a cada ano, um déficit de R$
5,1 bilhões, já tendo constituído uma dívida acumulada ao longo dos últimos
anos superior a R$ 15 bilhões. Há fraude na saúde, sim.
O
Brasil é um dos países que menos investem em saúde na América Latina, apesar de
a União ser a maior detentora da arrecadação (60% dos tributos) e, se comparado
com o PIB, o investimento não passa de 4% em saúde, quando este número deveria
ser, no mínimo, o dobro ou o triplo. No entanto, o fácil é transferir
responsabilidades para os Estados e municípios e eximir-se do devido apoio no
custeio.
Há
fraude na saúde, sim. Mas que de maneira nenhuma se generalize. As instituições
sérias não podem pagar por eventuais erros de poucos. E que essa punição também
alcance a gestão pública. Essa deve responder pelos gritos da sociedade e
também pelos anseios dos prestadores que estão morrendo, como os pacientes das
filas, por puro descaso.
Há
fraude na saúde, sim. Porém, não esta alardeada do lado dos hospitais. Ela
está, essencialmente, do outro lado, na subtração da esperança por serviços
acessíveis e de qualidade, almejados pelo povo brasileiro e de quem, por
vocação, para ele, quer continuar a fazer o bem.
*PRESIDENTE
DA FEDERAÇÃO DAS SANTAS CASAS DO RIO GRANDE DO SUL
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