24
de setembro de 2013 | N° 17563
FABRÍCIO
CARPINEJAR
Loja de horrores
Confesse
que já aconteceu com você!
Experimenta
um vestido na loja, adora, decide comprar, levita com o pressentimento de usá-lo,
imagina qual será a ocasião, sonha com os movimentos do quadril, cogita onde irá
estrear e com quem, mas o feitiço não dura nem duas horas.
É como
penteado em salão. Na hora em que aterrissa na residência, o vestido não é o
mesmo. Não adere como antes. Não tem o mesmo efeito hipnótico. Não parece raro
e indiscutível, você não alcança o que gostou tanto no caimento e nas costas,
parece normal e trivial, não vale a metade do investimento, bate uma raiva de
que gastou à toa e agiu por impulso consumista, jura que foi enganada pela
pressa ou pela carência do armário. O que entrava fácil custa esforço, tempo e
paciência e transmite a incômoda sensação de que pegou o número errado sem
querer.
Este
é o tormento de minha amiga Claudia Tajes. E o martírio é coletivo, responsável
por destruir a maior parte das fantasias românticas.
Chegamos
à conclusão de que o espelho da loja é diferente do espelho de casa. Não vieram
de igual fábrica. Não pode ser de idêntica fibra. Deve conter algum ondulamento
salvador, um reflexo de circo, uma profundidade espírita. Algo ocorre que não
se prevê.
Não é
loucura, não é histeria – os terapeutas também padecem desse sofrimento.
Há uma
mudança de ares certamente, de atmosfera que ajuda a miragem. Talvez a iluminação
da loja privilegie a tez da pele, assim como os filtros da câmera salvam fotos
desfocadas. Testemunha-se um impacto alucinógeno no provador. Talvez seja obra
das cortinas. Abrir e fechar as cortinas confere um andamento de teatro que
melhora a roupa.
É como
um abracadabra, um passe de mágica, um aviso de que o espetáculo vai começar. As
mulheres se enxergam como personagens, livres dos limites da própria vida e da
cintura. Uma ideia seria colocar mais cortinas no apartamento, e não somente
nas janelas. Cortinas nas portas para perpetuar a ficção e o palco. Seria uma
saída, não uma solução.
A
certeza da aquisição que se torna dúvida no lar é um mistério inviolável, como
a fórmula da Coca-Cola e da Minancora. O provador possui um esquema de lambe-lambe,
de câmera escura, isola aquele momento do mundo e dos barulhos familiares. É como
uma cabine de desmaterialização. O corpo é outro, emagrece milagrosamente, como
os lutadores do UFC na véspera do enfrentamento no octógono.
Uma
das hipóteses é que a respiração fica mais tranquila. É quase uma aula de ioga,
uma saudação ao sol. Todo mundo está cabeludo de saber que prender a respiração
é o melhor zíper do jeans – a fobia asmática apenas surge em casa, quando se
está sozinha novamente e o desespero paga para ver.
Claudia
Tajes não cansa de devolver suas roupas, nem tira mais as etiquetas. Vive
colecionando tíquetes de estacionamento dos shoppings.
Só a
poesia para ser fiel à beleza feminina.
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