18
de setembro de 2013 | N° 17557
PAULO
SANT’ANA
O fim dos
tempos
A
única coisa que se espera hoje à tarde é que o voto do ministro Celso de Mello
no Supremo seja breve, já que justo se sabe que não será.
O
que se espera é que o voto do ministro que falta para fechar a pantomima seja
rápido, que ninguém mais aguenta essa embromação de votos tecnicistas e
maçantes.
O
que se esperaria é que o ministro Celso de Mello pronunciasse um voto que fosse
menos aguardado do que a justiça que pudesse prolatar.
Depois
que esse voto vier a declarar que o Supremo não é mais a última instância, e
sim a penúltima instância de si mesmo, a única esperança que se pode nutrir é
de que o voto do ministro não demore horas extenuantes de malabarismos
jurídicos empolados que não atingem mais os neurônios de ninguém.
O
que se espera desse voto de mérito já antecipado é que seja claro, se é
possível que haja clareza ou claridade nessa escuridão de impunidade aberrante.
Só o
que se espera desse voto já tão anunciado quanto injusto é que ele venha a se
tornar um pepino mais palatável pela rapidez de sua formulação, o chamado voto
de Pepino, o Breve.
Existe
só um brasileiro que acredita que o voto de Celso de Mello será hoje contra os
embargos infringentes: o Ibsen Pinheiro. Ele crê firmemente o que já ninguém
mais crê, que o ministro vai desempatar a contenda contra os réus. O Ibsen me
disse ontem que acredita muito no poder do grito das ruas e que o voto, assim,
seguirá o rumo ditado pelas multidões.
E
afirmei ontem ao Ibsen que o voto de Celso de Mello será a favor dos embargos
infringentes, a favor da procrastinação do feito, mas o Ibsen crê no contrário.
Pois, então, só me resta torcer para que o Ibsen esteja com a razão a respeito
desse seu vaticínio.
Um
dos ministros do STF pelo menos, Luis Roberto Barroso, declarou que votou a
favor de mais recursos para os réus, “apesar do clamor das ruas”.
Por
que será que as ruas clamam por punição aos mensaleiros? Da minha parte,
presumo que o povo já cansou de tanta impunidade, “de tanto ver triunfar a
injustiça e o poder nas mãos dos maus”, no dizer de Rui Barbosa.
Mas
é chegada a hora da decisão. Para mim, aliás, a hora foi antes, o que acontece
agora é apenas uma tragédia anunciada.
Os
meus leitores são testemunhas de que fui o único jornalista brasileiro que
antecipou a catástrofe.
Estou
torcendo para que o Ibsen tenha razão e eu tenha errado na minha opinião de que
hoje será o dia mais negro da história da Justiça brasileira.
E
tenho fé tanto na minha opinião de que hoje será o fim dos tempos quanto na
esperança de que no futuro novos ventos levem o Brasil para territórios de
justiça tão sonhados e como se está vendo jamais alcançados.
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