15 de setembro de 2013 | N° 17554
PAULO SANT’ANA
A Águia
de Haia
Neste momento em que uma reviravolta espetacular ocorre no
julgamento do mensalão no STF, pela qual quem já estava com um pé atrás das
grades foi puxado de lá pelo poder dos homens que servem a interesses subalternos,
nunca foi tão ecoantemente propício o pensamento de Rui Barbosa, a Águia de
Haia: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de
tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantar-se o poder nas mãos dos
maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter
vergonha de ser honesto”.
Fiquei a cismar na sexta-feira, ao ver o que está sendo
preparado no julgamento do mensalão, que muitas vezes há mais justiça nos
julgamentos da Justiça Desportiva, nos julgamentos das Varas de Família da
Justiça, nos juízos singulares das Justiças Comum e do Trabalho do que no
Supremo Tribunal Federal.
A outro respeito, tenho um amigo que marca encontros
importantes comigo.
O interessante é que só acontecem nossos encontros depois
que marcamos encontros iniciais e meu amigo os desmarca, por variados motivos.
Eu sempre que marco encontro com ele fico com o coração na
mão, a qualquer momento ele pode desmarcá-lo.
E acontece nesse particular algo interessantíssimo comigo:
muitas vezes compareço a encontros com meu amigo aos quais não poderia
comparecer por forte e relevante motivo.
Mas estou sempre presente quando marco os encontros, mesmo
havendo óbice importante para que eu não comparecesse. Essa é a única e simples
diferença entre mim e meu grande amigo.
E não me atrevo a dizer que a maioria dos motivos que meu
amigo alega para não comparecer a encontros comigo é leviana e injustificável.
Não me atrevo.
Esses dias, elogiei tão profundamente o meu amigo Cyro
Silveira Martins Filho nesta coluna, que vários outros grandes amigos meus se
encheram de ciúme.
O Moisés Mendes fez um discurso aqui na Redação dizendo que
gostaria de ser meu amigo a ponto de um dia receber a declaração de amor que
fiz ao Cyro. Eu olho de longe esses torneios de inveja entre meus amigos.
E fico a refletir que se meus amigos não tivessem ciúme de
mim com meus outros amigos, não seriam meus grandes amigos.
E declaro finalmente que elogio meus amigos observando a
seguinte máxima: “Elogio-os a cada um de acordo com sua capacidade de me serem
magnânimos mas também de acordo com sua necessidade de afeto”.
E o Moisés Mendes não é daqueles que andam muito
necessitados de amparo afetivo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário