17
de setembro de 2013 | N° 17556
ARTIGOS
- Nilson Luiz May*
O Brasil e a
vergonha
Rui
Barbosa, na Oração aos Moços, tinha razão. A situação continua. Acachapante.
Vexatória. Vivemos envergonhados. Suportando. Agradecendo. Não temos
cataclismos. Tufões. Terremotos. Tsunamis. Tornados (como no Japão). Nem
revoluções sangrentas (como na Síria ou no Egito). O povo é pacífico. A terra
em se plantando tudo nela dá (Pero Vaz). O cidadão é inerte. Nas filas, nas
estradas, nas delegacias de idosos, espera. Horas. Teme as autoridades. Treme.
Tem
medo. Vergonha. Assiste a palestras para aprender a ser feliz. Faz cursos. Lê
livros de autoajuda. Os jovens foram às ruas. Anônimos. Turbas de saqueadores
infiltraram-se. Roubaram. Quebraram. Queimaram. Conseguiram vinte centavos nas
passagens urbanas. O parlamento sofreu um pequeno susto. Pequeníssimo. Já
passou. Está esquecido. Movimento sem lideranças. Sem estratégia para
encurralar o poder dos favorecidos! Dos incompetentes! Dos corruptos!
O
povo (ingênuo) aplaude a Copa do Mundo no Brasil. Engodo. Jamais se verá
tamanha mostra de corrupção. De favorecimentos. De desvios. Saqueadores
descerão dos morros. Punguistas. Picaretas. Golpistas. Sanduíches e
refrigerantes que valem R$ 2 serão vendidos por R$ 20. A Fifa, que não resolve
seus problemas de corrupção intestina, assumirá o poder. O comando no país da
Copa. Os aeroportos, as rodoviárias, os hotéis, as estradas, as saídas dos
estádios, ficarão congestionados durante horas.
O
povo dirá que vale a pena. É a nossa seleção. Turistas? Dinheiro que entra.
Impostos. Os maiores do mundo. R$ 168 bilhões em 2013, seis dos 14 hotéis
financiados com juros abaixo do mercado não ficarão prontos antes do torneio.
Ao final, teremos mais hospitais para minorar a calamidade dos leitos?
Facilidades e rapidez nos financiamentos? Estradas (para aplacar a sanha
desenvolvimentista da venda de carros)? Menos acidentes? Assaltos? Segurança?
Sofremos
o drama de Joaquim Barbosa. O STF (que se pensava ser a última instância
recursal) prorroga datas para aplicação das penas impostas. Existiam embargos.
De declaração. Embargos infringentes? Mudaram dois ministros. Pode haver
revisão. O processo tornar-se-á eterno. Chicana. A cada troca. Infindável. Tribunal
fragilizado, instala-se a insegurança jurídica.
Assassinos
texanos (iguais aos nossos), no corredor da morte, esperam. Esperam... 10, 12
anos, a pena capital. Coitados. Tiveram azar. Cresceram no ventre de mãe
norte-americana. Os nossos assassinos, condenados a 18, 20 anos, estão na rua
com seis. Tiveram sorte. Acaso. Nasceram no ventre de mãe brasileira.
Arrependeram-se dos crimes. Ficaram bonzinhos. Crentes.
Divulgam
as verdades bíblicas. Pregam o amor ao próximo. O perdão. Ah!, o perdão,
qualidade inata do brasileiro. Aliada ao esquecimento. E ao pacifismo. Gostamos
de ser cordatos. A História registra. Não há mudanças radicais sem revolução. E
não há revolução pacífica. Então, não há esperança? Sim, há. Eventualmente, a
presidente Dilma e o vice Temer ausentar-se-ão do país. E o presidente do
Senado, Renan Calheiros, assumirá a cadeira da presidência.
*MÉDICO
E ESCRITOR
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