ELIO
GASPARI
Como a raiva reelegerá
Dilma
A
oposição prega para os convertidos, associando-se a causas perdidas; médicos
cubanos merecem crédito
A
recuperação da popularidade do governo da doutora Dilma foi audaciosamente
prevista pelo marqueteiro João Santana durante o rescaldo das manifestações de
junho, quando ele disse que tudo não passava de um desabafo temporário. A
doutora, que tivera 57% de aprovação, tomara uma vaia de estádio e caíra para
30%. Acredita-se que já retornou à faixa dos 40%.
Santana
tinha motivos para acreditar na força de Dilma. Não foi ela quem aumentou as
tarifas de transporte (pelo contrário, torceu o braço dos prefeitos Eduardo
Paes e Fernando Haddad para baixá-las).
Enquanto
a doutora tocava o expediente, a oposição dedicou-se a fortalecê-la. É uma
oposição que converte crentes.
Seu
primeiro alvo foi o programa Mais Médicos, que trouxe profissionais
estrangeiros. Em vez de discutir também a reserva de mercado que as associações
médicas estimulam, as pegadinhas do programa Revalida ou a burocracia das
universidades federais, partiram para baixarias e ameaças. Uma equipe de
repórteres da Folha descobriu um rombo no programa: em 11 cidades de quatro
Estados, prefeitos pretendem demitir médicos brasileiros que estão em suas
folhas, trocando-os por estrangeiros que serão pagos pela Viúva federal.
"Mais médicos" onde não os há é uma coisa. Menos médicos brasileiros,
bem outra. Basta lançar o programa "trocou, dançou".
A
desqualificação dos cubanos tem um ingrediente de ingenuidade. Raul Castro não
está mandando para o Brasil médicos que flanavam por Havana. Ele já enviou 113
mil profissionais para 103 países e fez da iniciativa uma fonte de dólares. São
quadros selecionados, com formação política. Em tempos passados, cubanos iam
para guerras onde morreram pelo menos 3.000 deles. O governo trabalha com a
certeza de que o programa trará benefícios. A oposição, com o desejo de que dê
tudo errado.
No
caso da solidariedade que deram ao diplomata que desovou o senador boliviano no
Brasil, esqueceram-se de pedir uma avaliação da sua conduta aos notáveis que
estão entre seus quadros. Disputam a bola atrás da linha de fundos, pois
pode-se detestar o PT, mas no dia em que um encarregado de negócios fizer o que
acha melhor, a diplomacia vira bagunça.
Dilma
vai para a reeleição (isso se não for preciso tirar Lula do banco de reservas)
porque o PSDB tem mais ressentimentos que planos e mais queixas que projetos.
Em 2010 o PT teve 55,7 milhões de votos. Desse jeito, a oposição corre o risco
de sair da eleição de 2014 com os mesmos 43,7 milhões de 2010, satisfeita por
ter conseguido que esses eleitores ficassem com muito mais raiva dos
comissários.
UM
SÁBIO
Quando
começou o julgamento do mensalão e nove em dez pessoas temiam que o STF fizesse
uma pizza, um conhecedor da Casa avisou:
"Haverá
uma farta distribuição de condenações. Muitas com penas superiores a dez
anos."
Esse
sábio acha que os recursos infringentes, capazes de aliviar a vida dos
comissários e de seus tesoureiros, morrerão na preliminar:
"Meu
palpite é uma maioria, de seis a cinco ou sete a quatro, mantendo as
penas."
Alguns
interessados já sentiram o cheiro da brilhantina e mudaram seus domicílios para
Brasília, onde começou uma pequena reforma na penitenciária da Papuda.
Para
os condenados a regime semiaberto, será um conforto. Irão da Papuda para a
Câmara e dela para a cela. Já a turma do regime fechado safa-se das condições a
que são submetidos os demais cidadãos no presídio do Tremembé.
NÃO
APRENDEM
Um
pedaço do comissariado petista namorou a ideia de salvar o comissário João
Paulo Cunha do regime fechado por conta de sua condenação, pelo Supremo
Tribunal Federal, a nove anos e quatro meses de reclusão.
RECORDAR
É VIVER
O
risco de um asilado vir a suicidar-se não é fantasia.
Depois
da deposição de João Goulart, seu secretário particular, Eugenio Caillard,
pediu asilo ao embaixador do México, Vicente Sanchez Gavito.
O
diplomata negou-lhe o pedido e, na mesma hora, Caillard ameaçou matar-se,
pulando a janela da sala em que conversavam. Gavito não quis arriscar e
asilou-o.
Semanas
depois, Caillard matou-se na embaixada, com barbitúricos.
GARIBALDI
NO BRASIL
Está
chegando às livrarias "Garibaldi na América do Sul: O mito do
gaúcho", do jornalista Gianni Carta. É o resultado de oito anos de
trabalho em oito países. Republicano, corsário e namorador, antes de ser o
herói da unificação da Itália, Giuseppe Garibaldi foi um subversivo na América
Latina, metido na Revolução Farroupilha. Carta estudou o mito que envolveu o
personagem, construído, entre outros, pelo romancista francês Alexandre Dumas.
Para
quem acompanha as atuais vicissitudes da diplomacia brasileira, vale relembrar
o episódio em que o ministro brasileiro em Montevidéu o chamou de
"pirata" e pediu que fosse expulso do Uruguai. Garibaldi foi à
legação brasileira e desafiou-o para um duelo. O ministro (João Francisco
Régis) não aceitou, sustentando que representava o governo de seu país e não
duelaria com um delinquente. Depois a diplomacia brasileira amansou-se.
CADÊ
O AMARILDO?
Sabe-se
que o major Edson Santos poderá deixar o comando da UPP da Rocinha.
Só
não se sabe:
1)
Onde está o pedreiro Amarildo.
2)
Com que frequência as câmeras da PM pifam. (As da UPP pifaram na hora de
registrar a saída de Amarildo.)
3)
Com que frequência as viaturas da PM rodam com os GPSs desligados. (Os da UPP
não funcionavam naquele mesmo dia.)
As
duas últimas perguntas o secretário José Mariano Beltrame pode responder. É só
querer.
ÓCIO
Nos
quatro próximos quatro domingos o signatário usufruirá o programa Mais Ócio,
financiado pela Bolsa Nada.
A
CÂMARA PODE CRIAR O ANEXO DOS CONDENADOS
A
situação em que ficou o deputado Natan Donadon pode ser absurda, produto dos
piores instintos do plenário da Câmara, mas é o jogo jogado. Seus pares acharam
que ele não ofendeu o decoro do Parlamento. Por ser um criminoso, ficará na
penitenciária da Papuda. Há precedentes de diversos países e nos Estados Unidos
chegou-se a situações ainda mais esquisitas.
Dois
deputados foram reeleitos enquanto estavam na cadeia. Um deles, depois de solto,
assumiu a cadeira e deu o voto que garantiu a presidência a Thomas Jefferson.
Um terceiro, Jay Kim, condenado a um ano de prisão domiciliar em 1988, ia ao
Congresso com uma pulseira eletrônica, sabendo que sua rotina seria de lá para
casa.
O
que parece ser uma monstruosidade poderia ser uma solução. Se os parlamentares
ladrões condenados pelo Supremo Tribunal Federal forem para a Papuda, fica
estabelecido que todos os brasileiros são iguais perante a lei. Deputado em
regime fechado não faz mal a ninguém. A Câmara pode até construir o anexo 5
para a carceragem.
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