19 de setembro de 2013 |
N° 17558
L. F. VERISSIMO | L.F.
VERISSIMO
“Hélas”
Deus criou o Céu e a Terra e o
Dia e a Noite, e deu nome às plantas, aos bichos e às coisas. Mas também era
preciso dar nome aos sentimentos e às emoções, a perplexidades e a situações
inusitadas e, sentindo-se despreparado para a tarefa, Deus criou os franceses.
Os franceses têm a expressão
certa para tudo, inclusive para o inexprimível, que eles chamam de “je ne sait
quoi”. O francês é a única língua do mundo com uma definição para a
incapacidade de definir.
Eles não apenas têm um nome para
“fazer beicinho”, “bouder”, como inventaram uma peça da casa que teoricamente
existe só para a mulher se recolher enquanto o faz, o “boudoir”. Outra
expressão francesa que não ocorreria a mais ninguém é “esprit d’escalier”, ou o
espírito que só se faz presente quando a gente já está descendo a escada,
depois de falhar na hora de ser brilhante. Se não fossem os franceses, não
saberíamos como chamar a sensação de que a boa frase ou a resposta arrasadora
geralmente só nos vêm quando não adianta mais. Na escada ou, mais recentemente,
no elevador.
Outra boa frase francesa era
“épater les bourgeois”. Caiu em desuso, em primeiro lugar porque todas as
frases prontas francesas foram ficando antigas num mundo cada vez mais
americano, mas também porque foi ficando cada vez mais difícil espantar a
burguesia. Depois da revolução sexual e do escancaramento da privacidade, nada
mais espanta ninguém e o que antes chocava hoje vira moda.
O que ainda funciona – tanto que,
no Brasil, se transformou num gênero jornalístico – é “épater la gauche”,
contrariar o pensamento convencionalmente progressista, ou apenas correto, com
reacionarismo explícito. Os “épateurs” da esquerda podem ser divertidos, mas,
como em todo “succès d’escandale” (que remédio, sou um antigo), nunca se sabe
se o sucesso se deve ao talento para escandalizar ou se o escândalo dispensa o
talento, e basta ser contra para aparecer. De qualquer maneira, “hélas”, aos
poucos as frases feitas francesas vão perdendo a atualidade e – ça va sans dire
– a utilidade
Papo Vovô
Lucinda, nossa neta de cinco
anos, gosta de brincar de modelo. E, como toda modelo precisa de um nome
artístico, ela nos informou que seu “nom de passarelle” é Uvinha Tessler. Não
entendemos bem. Não seria Evinha Tessler? Não, era Uvinha mesmo. E ela desfila
fazendo caras de Uvinha Tessler.
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