15
de setembro de 2013 | N° 17554
MARTHA
MEDEIROS
Estacionados na arrogância
Um
dos problemas das grandes cidades, e até das pequenas, é encontrar lugar para
estacionar. Uma vaga livre, hoje, é um bilhete premiado. Imagino que você, que
dirige, concorde com isso. E deve ficar, como eu, indignado com motoristas que
não dão a mínima para as linhas amarelas que delimitam o espaço para os automóveis
nos estacionamentos de shoppings e demais áreas comerciais.
Sei
que o assunto não é relevante, mas você entenderia se fosse colunista de jornal
há quase 20 anos e tivesse a impressão de já ter escrito sobre tudo. Aliás,
creio que até já mencionei o desrespeito às linhas sinalizadoras amarelas, mas
voltarei ao assunto: escrever é se repetir.
Então
lá vem o piloto, com pressa. O estacionamento está quase vazio, há várias vagas
ainda disponíveis. Ele nem titubeia: imbica o carro de qualquer jeito, sem
reparar que avançou em cima da faixa amarela, impossibilitando que outro
motorista estacione a seu lado. Ele está ocupando duas vagas e não se importa,
pois não enxerga além do próprio umbigo e não é da sua conta se daqui a pouco
aquele estacionamento estará lotado de pessoas procurando vaga – ele não foi
programado para pensar nos outros.
O
que ele deveria fazer, sem gastar mais do que 10 segundos do seu precioso
tempo, era manobrar (para frente e para trás, isso) até deixar o carro reto
entre as duas faixas, com espaço suficiente para ter vizinhos que, além de
estacionarem, conseguirão abrir as portas de seus veículos. Eu costumo manobrar
até deixar o carro retinho e, juro, não perco os braços, o consumo de combustível
não se altera e a gentileza dura mesmo 10 segundos, ou até menos, se você for
um às do volante.
Aí você
me diz: “Pois é, penso como você, mas às vezes encontro uma vaga em que o cara
do lado estacionou mal, invadindo o espaço alheio, e aí não me resta
alternativa a não ser fazer o mesmo. Depois o engraçadinho sai com o carro e
fica o meu ali atravessado, parecendo que eu é que estacionei errado desde o início”.
Conheço
a situação. Não é fácil. Mas aí a sociedade conta com sua beatitude: não
estacione errado só porque seu irmão o fez. Procure outra vaga. Dê voltas. Esmurre
a direção, pragueje contra o infeliz, mas não repita o que ele fez, pois se o
fizer criará uma corrente em que todos, durante todo o dia, estacionarão em
cima das faixas amarelas e o resultado será menos vagas disponíveis.
Eu
poderia estar roubando, matando, mas estou apenas esmolando sua compreensão. Se
você estacionar seu carro direitinho no espaço destinado a ele, sem deixar
torto, sem avançar na vaga alheia, sem abandoná-lo com displicência, sua
contribuição será reconhecida e há grande chance de nós, daqui a algum tempo, não
termos que pagar multa por causa disso também, já que a única didática eficaz
do país é mexer no nosso bolso.
Vamos
tentar ser educados de graça.
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