17
de setembro de 2013 | N° 17556
FABRÍCIO
CARPINEJAR
Pequenos céus
somados
O
pássaro que voará mais alto é o pássaro que nunca desistiu de puxar a coleira.
Será
a ave amarrada pelas patas que não se conformou com o confinamento da gaiola e
que toda manhã esticará seu corpo até o máximo. Até o máximo daquele dia.
Não
pode se soltar, mas nem por isso se sentirá preso. Não é livre, mas nem por
isso deixará de admirar a possibilidade de flanar.
Se
não tem condições de brincar com as árvores, brincará com sua sombra. Se não
tem como brigar pela comida, valorizará o alpiste que recebe em sua tigela
quebrando minuciosamente cada grão.
Se
não tem vento para expor sua plumagem, baterá as asas para fazer vento em si.
Se não tem o sol na cara, levantará as unhas pelas barras das grades por um
punhado de luz.
O
pássaro que voará mais alto sempre é o que – enquanto não pode voar – canta, é
o que – enquanto não pode subir – caminha, é o que – enquanto não pode planar –
afia o bico.
Não
reclamará da falta de opção, usará as opções que tem. Não pode voar, mas treina
seu voo esticando a coleira até o máximo. Até o máximo daquele dia.
Puxará
a corrente ao limite. Somará pequenos céus com os centímetros de sua corrente.
Tudo
o que voará depois será resultado de tudo o que andou em seus limites. Cinco
passos repetidos à exaustão darão o condicionamento de quilômetros. Não estará
destreinado para as alturas, já que exercitou seu fôlego no chão.
Não
desistiu de avançar mesmo com a ausência de espaço. Não se restringiu a uma
aparência apagada. Não se encabulou pelo sofrimento.
Quando
não havia chance de sair dali, aproveitou a solidão para se conhecer.
Quando
não havia com quem conversar, aproveitou o silêncio para afinamentos. Deveria
ser triste pelas suas circunstâncias, porém é feliz pelo temperamento. Deveria
ser melancólico pelo destino, porém é confiante no acaso.
O
pássaro que desaparecerá um dia no alto das nuvens, como se fosse mais uma
nuvem, foi o pássaro que jamais parou de tentar.
Só
voará alto quem carregou suas penas.
Só
voará alto aquele que criou seu lugar um pouco por vez, aquele que formou sua
virtude em segredo, aquele que não culpou a vida para se manter parado.
Liberdade
vem com o tempo, liberdade vem devagar, liberdade é esforço. Não ser do tamanho
de nossa prisão, mas ser do tamanho de nossa vontade.
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