09
de setembro de 2013 | N° 17548
L.F.
VERISSIMO
Armando
OInternacional
tinha acabado de derrotar o Cruzeiro com aquele gol mágico do Figueroa e se
tornado campeão do Brasil pela primeira vez. Os jogadores e a torcida ainda
comemoravam a conquista no campo e, nas cadeiras do Beira-Rio, eu e o Armando
Coelho Borges evitávamos nos olhar para não desandarmos, tamanhos homens, a
chorar.
Era
dezembro de 1975. Meu pai tinha morrido um mês antes, as emoções se misturavam,
o nó na garganta ameaçava se desfazer em soluços. Mas nos mantivemos firmes.
Dois senhores compenetrados, em combustão por dentro.
O
futebol e o Inter eram duas coisas que nos uniam. Era raro irmos nas cadeiras,
preferíamos a arquibancada, onde muitas vezes tínhamos a companhia de outro
amigo colorado, o José Onofre.
Um
quarto membro do grupo era o Ruy Carlos Ostermann, mas este ia ao estádio para
trabalhar. (Não, também nunca ficamos sabendo qual era o time do Ruy.) Fora do
futebol, nos encontrávamos com frequência, os quatro e suas respectivas, e
quase sempre quem comandava o nosso alegre convívio era o Armando, com seu
talento congregador e sua generosidade.
O
Armando era, acima de tudo, generoso. Seu prazer na arte ia de um prato
benfeito e um vinho bem acabado a uma sinfonia de Mahler, e ele tinha o hábito
civilizado de compartilhar seus gostos com os amigos.
Durante
algum tempo, escreveu uma crônica semanal para a ZH e, quando seu trabalho como
alto executivo o levou para São Paulo, eu o recomendei ao Mino Carta, que o
contratou para escrever sobre gastronomia para a nascente Carta Capital.
Depois, ele foi crítico de comes e bebes da Veja São Paulo e ultimamente escrevia
para a revista Presidente, com o humor e a elegância de sempre.
O
Armando morreu na semana passada. Foi meu melhor amigo. No velório, pensei em
todos os momentos que tínhamos compartilhado. Mas, como há 38 anos, me mantive
firme.
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