18
de setembro de 2013 | N° 17557
EDUARDO
VERAS
Diversão
Os
historiadores da arte debatem com indisfarçado entusiasmo a crise que acompanha
sua disciplina. Atentos às limitações de um relato que se fazia linear e
evolutivo, que tentava dar conta de tudo e deixava de olhar uma porção de
coisas, eles passaram a propor não mais uma História da Arte, mas uma profusão
delas.
Com
sorte, caberia aí a narrativa – exclusivamente visual – de vivi uma história da
arte, lançamento da editora Modelo de Nuvem, de Caxias do Sul. O título do
livro vem em minúsculas, já que nomeia, de fato, uma história particular; de
quebra, encerra um segundo jogo de palavras. Viviane “Vivi” Pasqual assina o
volume.
Ao
longo de 220 páginas, a artista ergue uma espécie de meta-história da arte, com
cem desenhos em hidrocor. Seu ângulo é iconoclasta, entre a paródia e a
homenagem. Em sua versão para O Pensador, de Rodin, por exemplo, o sujeito
aparece daquele jeito ensimesmado porque um passarinho fez cocô quase na sua
cabeça.
Ao
longo do livro, Vivi Pasqual enfileira em ziguezague – seguindo a ordem
alfabética por sobrenome – os artistas de sua admiração. A seleção passa por
Leonardo e Michelangelo, recua a Cimabue e Giotto, alcança Marina Abramovic e
Mathew Barney, e não despreza os amigos da autora, aqueles que moram aqui
perto: Elida Tessler, Lia Menna Barreto, Rommulo Conceição. Às vezes, Vivi se
concentra na produção mesma desses artistas; às vezes, em seu entorno (Iberê
Camargo é lembrado por seu gosto por bicicletas e pelo prédio que leva seu
nome).
Tudo
isso se constrói de uma forma muito pessoal, algo dionisíaca – com alegria e sedução.
O traço e a qualidade do humor flertam com o cartum mais paspalho, ao mesmo
tempo em que estão carregados de referências das mais sofisticadas. A artista
foi aluna de Jailton Moreira e, com os grupos orientados por ele, viajou por
Europa e Ásia. Estudou, observou, interpretou – in loco. Vivi viveu uma
história da arte.
Os
textos de Enéas de Souza sobre cinema guardam as mesmas virtudes de suas
análises como economista: densidade, rigor, erudição. O curta-metragem Os
Filmes Estão Vivos, premiado em Gramado, sublinha ainda outra qualidade do
crítico: a verve afiada e bem-humorada.
O
documentário acompanha Enéas ao longo de uma semana em Paris, enquanto ele vai
ao cinema e conversa depois das sessões com Fabiano de Souza (seu filho) e
Milton do Prado Franco. As entrevistas se dão, literalmente, em clima de mesa
de bar. A prosa corre sensível, divertida. Pena que é só um curta. Na estreia
em Porto Alegre, no sábado, o público deixou o cinema pedindo para ver mais.
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