27
de setembro de 2013 | N° 17566
EDITORIAIS
ZH
TETO PARA TODOS
Depois
de constatar que nada menos de 464 servidores do Senado recebem salários acima
do teto constitucional de R$ 28.059,29, o equivalente aos vencimentos de um
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), o Tribunal de Contas da União (TCU)
determinou não apenas a interrupção da regalia como também a devolução do
dinheiro desembolsado a mais aos cofres públicos. Já não era sem tempo.
O
curioso é que o relator da matéria, o ministro Raimundo Carreiro, defendeu que
os valores foram recebidos de boa-fé e, por isso, não precisariam ser
devolvidos. Foi voto vencido, felizmente. Se era irregular, tem que ser
restituído, ainda que o beneficiário, numa hipótese remota, ignorasse estar
recebendo acima do previsto por lei.
São
conhecidas as resistências de servidores dos três poderes e de todas as
instâncias da federação em se conformar com um teto de vencimento que, no
Brasil, mantém uma distância abissal da remuneração de categorias
financeiramente desprestigiadas ao longo do tempo, como professores e
policiais.
A
definição de um valor máximo estabelecido em lei só se impôs na prática porque
dirigentes de corporações influentes se comprometeram em abrir mão dos chamados
penduricalhos – vantagens que, até então, se acumulavam sem qualquer limite. A
questão é que, ainda assim, uma elite do funcionalismo insiste em continuar
ganhando acima do valor máximo fixado em lei, amparada na ideia de que jamais
ocorrerá qualquer problema.
Por
isso, a decisão do TCU de suspender os salários acima do teto no Senado e, mais
do que isso, de exigir de volta os valores pagos a mais tem efeito didático
importante que não pode ser desperdiçado. Em recente iniciativa referente à
Câmara, não houve a determinação de cobrar a quantia desembolsada a mais.
Um
risco a ser evitado agora, portanto, é o de que a exigência de restituição
venha a ser revista. Outra ameaça é de que a devolução acabe sendo feita não
com dinheiro dos funcionários favorecidos, mas com recursos públicos, levando o
contribuinte a arcar com o prejuízo duas vezes.
O
teto salarial do setor público só tem sentido se valer para todos os
servidores, indistintamente. Só no caso do Senado, os gastos com os
funcionários remunerados acima da lei alcançam R$ 60 milhões por ano.
São
essas deformações que, somadas, agravam as iniquidades no setor público,
impedem maior eficiência em serviços essenciais e dificultam uma remuneração
mais digna para quem, mesmo exercendo funções igualmente nobres, se mantém na
base da pirâmide do funcionalismo.
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