19 de setembro de 2013 |
N° 17558
PAULO SANT’ANA
Acertei a previsão
Bem, meus amigos, como esta
coluna adiantou com exatos sete dias de antecedência, caiu ontem à tarde sobre
o Brasil a maldição de acreditar-se menos ainda na Justiça brasileira nos
próximos tempos.
Eu juntei, uma semana atrás, as
peças desse xadrez fatídico e antecipei que o Supremo iria acatar os tais
embargos infringentes, contra a expectativa geral.
Afirmo agora e ainda
categoricamente: ao fim e ao cabo dessa tragédia, não se fará justiça. Ontem
foi determinado por outras palavras e outros gestos que não se fará justiça.
E não se fará a justiça que o
próprio Supremo havia ensaiado. Ou seja, o Supremo ameaçou fazer justiça e não
cumpriu. Ou seja, estamos fritos e continuamos à espera de que algum dia se
faça justiça neste país.
Se tenho uma última coisa a
dizer, é que não devemos perder a fé de um dia pertencermos a um país que faça
justiça, ainda que com suas imperfeições humanas.
O que se fez ontem foi injustiça
com tintas de toda a fraqueza humana.
E cumpro o dever de reproduzir
agora a coluna que escrevi oito dias atrás, em que predisse toda a hecatombe
que ontem se perpetrou.
Não foi difícil para mim prever
com absoluta exclusividade o que era imprevisível há oito dias:
Os embargos infringentes
Hoje haverá (oito dias atrás) uma
sessão importante do Supremo Tribunal Federal. Tenho certeza de que a partir de
hoje serão surpreendentemente aceitos os embargos infringentes dos principais
réus, que assim não conhecerão as grades da Penitenciária da Papuda.
Se você, leitor ou leitora,
acredita na justiça humana, mergulhe a partir disso no mais profundo ceticismo:
não há salvação para a espécie humana. Creia, isso sim, leitor, que há
determinados réus e há outros réus. Há réus passíveis de serem punidos e há
réus imunes a qualquer punição.
É doloroso, mas infelizmente esta
é a verdade: a justiça não é para todos, a justiça é apenas para algumas
pessoas. Por exemplo, o publicitário Marcos Valério, que foi quem pagou de mão
em mão dos corruptos a corrupção, este será aparentemente punido com o máximo
rigor. Mas tenho certeza de que o mesmo Marcos Valério, embora venha a conhecer
inicialmente o amargo sabor das grades da prisão, ali adiante não será
esquecido pela súcia criminosa e receberá unção física que o livrará finalmente
das grades e o fará calar-se para sempre.
Na minha previsão, o grande
derrotado ao lado do próprio Brasil será o ministro Joaquim Barbosa. Ele
resistiu até o fim, será vencido no fim. Foi bravo, esgrimiu contra tudo e
contra todos e será abalroado pelo sistema nestes dias que começam hoje.
Se eu tiver razão, tudo não
passou de uma espetacular comédia. Deu-se a impressão de que conheceriam a pior
pena (o recolhimento às grades) os réus mais importantes e cabeças da
engrenagem. Mas adviriam acontecimentos suavizadores das penas, entre eles a
substituição, recentemente, de dois ministros do Supremo. Se Joaquim Barbosa
fosse extrassensível, teria percebido que uma conjunção final de fatores
levaria à extrema-unção dos principais réus.
E Joaquim Barbosa apenas
soçobrará como um mártir desse julgamento, alguém que acreditou na veracidade
de seu ministério e apenas desconheceu que sempre, inevitavelmente nesse tipo
de caso, prevalece a justiça falha e vulnerável do sistema. É o meu vaticínio.
E, se eu errar, não me faltará hombridade e humildade para reconhecer meu erro
e pedir desculpas a meus leitores. Mas hoje, neste instante, eu tenho o dever
inarredável de seguir o meu controle sensorial sobre os últimos acontecimentos.
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