23 de setembro de 2013 |
N° 17562
LIBERATO VIEIRA DA
CUNHA
A música mais bela
Se me perguntassem qual é a mais
bela música popular jamais composta nestes tristes trópicos, eu diria de
imediato que admiro imensamente muitas das de Noel, Chico, Vanzolini, Tom,
Vinicius, Lupi, em especial Nunca. Mas, de todas, escolheria a mais linda
história de amor até hoje inventada na MPB, em todos os tempos, abaixo (e por
que não acima?) da linha do equador. Eu elegeria O Mundo é um Moinho, de
Cartola.
Para que fiquem sabendo do que
estou falando, aqui vai um trecho:
“Ainda é cedo cedo, amor,
Mal começaste a viver a vida
Já anuncias a hora da partida
Sem saber o rumo que irás tomar
Presta atenção, querida,
Embora eu saiba que estás
resolvida,
Em cada esquina cai um pouco tua
vida,
Em pouco tempo não serás mais o
que és”
É claro que, só pelo início de
letra, vocês não vão ter ideia da inteira formosura (deixem essa palavra
formosura aí) do que estou comentando.
A princípio, the lyrics, como
diria Cole Porter, sugerem a despedida de dois amantes. Desculpem, pode ser
engano. Mas não vou entregar nesta crônica do que se trata.
Para mim, basta que entendam a
mensagem única e absoluta de cada verso.
Estamos diante de uma Declaração
de Direitos. Não de uma Declaração Universal, tipo aquelas que a ONU costuma
emitir, especialmente depois de longas, terríveis guerras.
É algo mais íntimo, posto que os
que amam costumam ser docemente repressivos.
Mas troquemos de parágrafo.
É uma útil operação eletrônica
que nos afasta de efeitos colaterais. O essencial é que Cartola, cantado por
Cazuza, pela Legião Urbana ou, como ouvi uma noite dessas, pela voz inimitável
e imbatível de Isabela Fogaça, construiu uma obra-prima.
Nada comparável à Vitória de
Samotrácia, à Vênus de Milo ou à Mona Lisa.
Mas é algo que nos toca o coração
e nos envolve a alma de inteira ternura. O que se pode pedir mais de um momento
de plenitude?
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