05 de setembro de 2013 |
N° 17544
L. F. VERISSIMO | L.F.
VERISSIMO
Crec-crec
Toda morte é prematura, mas
algumas doem mais do que outras, nos que ficam. Até hoje os amigos lamentam a
falta que faz a inteligência aguda do José Onofre, que partiu cedo demais.
Foi o Onofre que, certa vez,
reagindo à velha máxima de que não se pode fazer omelete sem quebrar ovos usada
para justificar toda sorte de violência, disse: “É, mas tem gente que não quer
fazer omelete, gosta é de ouvir o barulhinho de cascas de ovos se quebrando”.
Segundo o Zé, era preciso distinguir o sincero desejo de revolução ou mudança
da busca do crec-crec pelo crec-crec.
Na véspera das manifestações
anunciadas para o dia 7, e ainda no rescaldo das manifestações passadas, a
distinção é vital. E não parece difícil: a turma do crec-crec é a turma do
quebra-quebra, identificada pelos rostos tapados, ou pelo cuidado em não ser
identificada.
Mas não é tão simples assim, há
mascarados com boas causas e caras limpas que só estão ali pela baderna, os
aficionados do crec-crec como espetáculo de rua.
E, como um complicador a mais, há
a natureza indefinida das omeletes pretendidas. “Abaixo tudo!”, como li num dos
cartazes sendo carregados em junho, tem a virtude da síntese, mas não parece
ser uma reivindicação viável.
Li que a extrema direita pretende
encampar a megamanifestação de sábado e que seu objetivo – uma omeletaça – é
derrubar a Dilma.
De qualquer maneira, pode-se
prever mais algumas cabeças sendo quebradas, como cascas de ovos, nas
manifestações contra tudo e a favor de, do, da... enfim, depois a gente vê o
que vem por aí.
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