11
de junho de 2013 | 2h 10
Arnaldo
Jabor - O Estado de S.Paulo
Periguete, meu
amor...
Meus
artigos mais amados não foram escritos por mim. A internet está cheia de textos
com meu nome, que causam 'frisson' entre mulheres mal-amadas, homens que amam
pouco e subliteratos. E pior, chegam encantados me elogiando e quando digo, com
maligno sorriso, que jamais escreveria aquelas bobagens, me olham com rancor e
partem batendo os pés. Os meus 'falsos' artigos são quase sempre sobre as
mulheres e de como devem ser 'bonitinhas, obedientes e gratas aos maridos'.
Pois
aqui, serei apócrifo de mim mesmo. Vamos a isso.
É
espantoso o exibicionismo sexual das brasileiras - desde as mais mocinhas,
ingênuas crianças, até coroas ex-gostosas e atuais barangas. Todas de shortinho
ou 'saias abajur' (que só cobrem a 'perseguida'), barriga nua, todas bundudas e
sapatos plataforma de 10 centímetros. O modelo da mulher de hoje são as
mulheres mangabas, melancias e abóboras - bundas que as defendem como
'airbags'.
As
'periguetes' aumentaram a solidão dos pobres 'voyeurs' brasileiros. Sem falar
nas revistas que programam industrialmente nossa tesão.
Nunca
as mulheres foram tão nuas no Brasil; já expuseram o corpo todo, seios, vagina,
mucosas, ânus. O que falta? Os órgãos internos?
Muitas
têm boquinhas tímidas, algumas sugerem um susto de virgens, outras fazem cara
de zangadas, ferozes gatas, mas todas nos olham dentro dos olhos como se
dissessem: "Venham... eu estou sempre pronta, sempre excitada, eu
independo de carícias, de romance!". Sugerem uma mistura de menina com
vampira, de doçura com loucura. Seu ideal é serem desejadas como bons produtos.
Felicidade é ser consumido. Felizes como coisas: Uma salsicha é feliz? Um bela
lata de caviar? Mas como amar um eletrodoméstico?
Que
querem essas mulheres? Querem acabar com nossos lares? Querem nos humilhar com
sua beleza inconquistável? Elas têm de fingir que não são reais, pois ninguém
mais quer ser 'real' hoje em dia. Vi um anúncio de uma boneca inflável que
sintetizava o desejo impossível do homem de mercado: ter mulheres digitais que
não vivam... O anúncio tinha o slogan embaixo: "She needs no food nor
stupid conversation". (Nem precisa levar para jantar nem ter conversa
fiada). A liberdade de mercado produziu um estranho 'mercado da liberdade'.
Eu
não falo isso como crítica. Não. Eu tenho inveja, a verde, viscosa e sinistra
inveja da ausência de angústia, da ignorância gargalhante que adivinho sob
seios siliconados de mulheres gostosérrimas ou sob os peitos raspados de
garotões 'tanquinhos'.
Chego
na banca de jornais e peço: Me dá o Estadão, O Globo. Pelo canto do olho, vejo
as revistas sexies. Pergunto ainda: Já chegou o The Economist, o Foreign
Affairs? Ah... não?... Então... tudo bem... ah... me dá aquela revista ali...
"Qual?" - pergunta a jornaleira. "Aquela ali...", respondo
com falsa displicência, apontando uma mulher fruta na capa. A gorda senhora
italiana me olha com desprezo irônico.
Vou
para o escritório como um velho onanista com um crime nas mãos. Eu precisava
entender as bundas das mulheres frutas. Começo a rasgar o papel de celofane com
mãos trêmulas. As 'frutas' me olham de costas, como uma salada. Lendo a
revista, começo a sofrer.
Decepciono-me
com o que vejo. Penso: "Estou velho ou as 'uvas estão verdes?".
Folheio a revista em busca do desejo, mas nada acontece. "Por que, meu
Deus? Elas são feias?" Que nada. Ninguém mais é feio. Ali só há mulheres
retocadas e lindas, para programar nossa libido. Essas mulheres perfeitas pelo
'photoshop' não precisam de nós. Elas parecem ser as namoradas de si mesmas.
Olho
as revistas povoadas de mulheres lindas e me sinto mais só, diante de tanta
oferta impossível. Elas são muita areia para o caminhão dos proletários sexuais
que jamais terão dinheiro ou charme para conhecê-las. Elas provocam uma 'tesão
de classe'.
E a
grande moda do momento? Ah... são mulheres penduradas em acrobáticas posições
ginecológicas para raspar os pelos pubianos nos salões de beleza. Ficam
balançando em paus de arara e, depois, saem felizes com apenas um canteirinho
de cabelos, como um jardinzinho estreito e não mais a floresta peludas onde
mora a temível 'vagina dentata'.
Parecem
uns bigodinhos verticais que me fazem pensar em Hitler ou Sarney. Elas não
querem ser amadas; querem que a gente sofra. Querem ser coloridos objetos para
nossa masturbação. Mas isso é injusto para com o punheteiro contemporâneo, que
vira um pobre excluído.
Antigamente
não tinha isso não. A doce punhetinha era pura narrativa literária. Punheta era
dramaturgia. Tínhamos de imaginar complicados enredos, com tramas de suspense e
estrutura de romance policial. O que mais acendia o desejo eram justamente as
peripécias, os obstáculos até chegarmos ao orgasmo. Imaginávamos cenas
excitantes:
Na
sala vazia, D. Abigail, professora de matemática, irritou-se comigo: "Raiz
quadrada de B2 menos 4AC sobre 2A! Será que você não aprende? Coberto de
vergonha, abaixo a cabeça e vejo a saia justa lascada do lado, a deliciosa
nesga de perna branca com celulite.
D.
Abigail grita comigo: "Levanta a cabeça! Repete a equação!".
"Não sei, professora...", respondo debulhado em lágrimas. "Vem
cá, filhinho, eu te ensino." E D. Abigail me aperta contra os seios, e
suas mãos descem lentamente, enquanto suas coxas com celulite se roçam,
produzindo o suave 'frufru' das meias de 'nylon' recém-chegadas da América...
Ou
podia ser então a mãe 'boa' de algum amigo: "Carlos Eduardo está em casa,
dona Flora?". "Não, Arnaldinho... Mas, eu estou. Venha cá no quarto
ver meu sapato altíssimo de verniz negro e ponta fina que faz 'tic tic' no
assoalho..."
Mãe
de amigo era 'tudo' e nos dava um acre sabor de culpa perversa.
É
isso aí. E ao fechar este texto, me assalta a dúvida: estou sendo hipócrita e
com inveja do erotismo do século 21? Será que fui apenas barrado do baile?
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