12
de junho de 2013 | N° 17460
ARTIGOS
- Marisa Faermann Eizirik*
Por que dói o amor?
Por
que dói o amor? Porque implica encontro e união e, também, desencontro e desunião.
Não pode aprisionar, nem ser aprisionado. É de sua natureza ser fluxo, estar
sempre pronto a se desfazer e refazer. O amor só é eterno enquanto dura, diz
Vinicius de Moraes. Só a duração é eterna.
Falar
sobre o amor é abordar um dos temas mais recorrentes da vida humana e que todos
experimentamos em alguma de suas formas. Difícil de ser conceituado,
encontramos sua ambiguidade já na Grécia Clássica, em que o amor aparece em três
vocábulos (eros, philia e agapè) que enfatizam não o que se ama, e sim, o tipo
de relação que se estabelece.
Eros
designa o amor acompanhado de desejo. Já a segunda palavra (philia) se refere
ao amor por algo com o que nos associamos – podendo ser tanto amor a uma
pessoa, como na relação de amizade, como amor a uma ideia ou valor, como na
filosofia. Por fim, há a agapè, que se encontra relacionada a um valor específico,
talvez próximo da “renúncia”. Seria um amor da ordem da ternura, sem
reciprocidade, uma espécie de amor puro, como o amor ao próximo pregado pela
tradição cristã da caridade.
Eros
se relaciona diretamente com o desejo, que se apresenta como falta, na tradição
platônica, ou como força, produção, na versão nietzschiana. Na primeira, surgem
as questões: pode-se amar aquele que já se tem ou só o que nos faz falta? Como
poderia alguém desejar o que já possui? Como se pode prescindir do que já se
tem?
O
amor em relação a algo (ou alguém) parece nascer de sua falta. Instala-se,
assim, no imaginário coletivo, por séculos, a ideia do desejo como falta e,
portanto, do amor como algo sempre oscilante entre a fartura e a saciedade, em
uma busca constante.
Mas
o amor não é imune ao tempo e, nas flutua- ções da história e das revoluções
que marcam a existência humana no Ocidente, vemos mutações nos modos de amar,
com múltiplas práticas eróticas e formas amorosas se desenhando, a partir do
exercício do amor como produção, energia, força, sempre em conflito, pois essa é
a característica básica do amor enquanto fluxo – abundância e carência.
Na
experiência contemporânea, vivemos a velocidade como um valor em si mesmo, com
sutis e profundas repercussões no plano das relações e das práticas amorosas. Órfãos
de nossas certezas, seguimos em busca de um chão menos escorregadio, de vínculos,
se não estáveis, pelo menos intensos em seu significado afetivo. E não importa
a dor, amar e se apaixonar é tudo porque a vida vale a pena.
*PSICÓLOGA,
MESTRE E DOUTORA EM EDUCAÇÃO – UFRGS
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