26
de junho de 2013 | N° 17473
MARTHA
MEDEIROS
Vem pra rua, não pra estrada
Todos
estão opinando sobre as manifestações que vêm ocorrendo no país. Tenho pouco a
acrescentar: concordo que veio em boa hora esse alerta de que não somos tão
acomodados, e ao mesmo tempo lamento que ignorantes promovam a destruição do
patrimônio público e privado, desviando a atenção do que realmente importa
nesses protestos.
Afora
chover no molhado, venho sugerir uma reflexão sobre os locais de agrupamento. A
rua sempre foi o lugar ideal para se manifestar: em grandes avenidas e praças,
alcança-se o impacto pretendido. Com toda a população por testemunha, saímos a
pé em direção à casa da presidente, dos governadores e dos prefeitos para dizer
de viva voz que não toleramos mais a corrupção e o alto custo de vida. O trânsito
de carros é redirecionado e ninguém perde sua liberdade de ir e vir. É legítimo
e eficiente.
Mas
interromper rodovias é outra coisa. Compreendo (sem apoiar) que moradores que
vivam às margens de uma estrada a interrompam momentaneamente para chamar a
atenção para o número excessivo de acidentes e atropelamentos que ali
acontecem, exigindo melhor sinalização. É uma reivindicação relacionada
diretamente ao local do protesto. Porém, no caso das manifestações de massa que
clamam por direitos diversos, interromper as ligações de acesso à cidade é um
ato de vandalismo também. É povo x povo. Não faz sentido.
Cidadãos
trabalham e estudam em outras localidades, precisam trafegar entre os municípios,
cumprir seus compromissos. Pessoas viajam para visitar parentes, realizar
cursos, fazer consultas em hospitais: não é justo que fiquem presos por um
longo tempo dentro de um veículo sem condições de conforto, higiene e alimentação.
Há idosos
ali, doentes, crianças, mulheres grávidas. Sem falar no transporte de carga,
que fica impedido de abastecer nossas metrópoles. Interromper uma estrada é criar
constrangimento e promover um prejuízo a quem, em vez de se aliar a nós, se
torna uma vítima. Ela é penalizada da mesma forma que os donos dos
estabelecimentos destruídos por vândalos.
Quando
o povo se manifesta, ele faz em nome da liberdade também. A liberdade de
escolher quais são suas causas, a liberdade de se unir com quem defende o mesmo
que ele e de voltar para casa na hora que quiser, com segurança. A liberdade de
gritar palavras de ordem, cantar o hino, levantar cartazes, usar as roupas que
melhor traduzem sua indignação ou esperança, enfim, exercer plenamente sua
cidadania.
A
maioria dos jovens está pensando no seu futuro, mas também construindo um
passado: querem, daqui a 20 anos, se orgulhar de terem feito parte disso. Aderem
ao movimento para, entre outras coisas, dar um sentido à própria vida. É um
objetivo maior e mais nobre do que simplesmente aporrinhar por aporrinhar.
A
rua é uma arquibancada democrática. Mas interromper a liberdade de deslocamento
do outro é uma tirania que diminui o tamanho do gigante que acordou.
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