19
de junho de 2013 | N° 17466
PAULO
SANT’ANA
Boca no
trombone
Mais
de 300 mil pessoas saíram às ruas nas principais cidades brasileiras anteontem
para protestar contra fatos que agora vão ficando mais claros e definidos.
Entrevistados
pela imprensa, disseram que protestavam contra a corrupção, contra o dinheiro
público gasto nas obras para a Copa do Mundo e em protesto contra as condições
da saúde brasileira, entre outros motivos.
Fico
pensando que, em grande parte de seus motivos, esta coluna já protesta há
muitos anos.
Eles
protestam contra a fila sinistra do SUS que não atende os miseráveis inscritos,
que levam de quatro a oito anos para serem operados, a maioria deles morrendo
antes do atendimento. Não posso entender como é que uma pessoa que sente uma
dor em determinada parte do corpo e marca uma consulta só será atendida dali a
dois anos, é muito claro que não há atendimento nenhum, pois ele deveria ser de
urgência. E incrivelmente leva anos.
Não
tem de ter fila nenhuma, isto é um absurdo colossal, um dia, como eu esperava,
o povo iria sair às ruas para protestar.
Eles
protestam contra a corrupção: a única condenação sofrida pelos políticos nos
últimos tempos, a do mensalão, não foi levada a efeito, não foi ninguém preso,
e ao que tudo indica ninguém o será.
Isso
não chega para levar às ruas centenas de milhares de brasileiros? Isso é uma
barbaridade. A maioria dos manifestantes se comportou pacificamente. Menos de
1% deles cometeu desordem e vandalismo.
Em
Nova York, 300 brasileiros lá residentes protestaram contra a corrupção e as
condições precárias de atendimento de saúde no Brasil. Até quem está lá longe
sente que nós, brasileiros, estamos sofrendo aqui.
E
esses protestos que começaram pelo preço das passagens de ônibus agora vão
encontrando maior sentido junto aos manifestantes, eles têm muitos motivos para
protestar.
A
presidente Dilma deu uma entrevista, logo após as manifestações, muito
ajuizada: ela entendeu direitinho o protesto, ele é principalmente dirigido
contra a corrupção e por uma melhora urgente do atendimento de saúde ao povo
brasileiro.
O
Brasil não vai ser o mesmo depois das manifestações de anteontem, vai ser
melhor e mais democrático. Porque os governantes passaram a sentir medo do povo
desde anteontem. E vão andar na linha, pelo menos mais na linha do que andavam
antes.
O
povo brasileiro mostrou que é capaz de protestar e que seu protesto tem o poder
de ecoar pelo mundo inteiro, ou seja, todo o planeta ficou sabendo anteontem
que o Brasil não é só o país-sede das Copas das Confederações e do Mundo, ele é
também uma terra de miséria, de descaso com a saúde de seus habitantes e de
agentes públicos corruptos.
Demos
assim uma demonstração de que somos capazes de protestar, de gritar, de
verberar.
O
Brasil deixou anteontem de ser cordeirinho. Vai agora vestir outra pele: a dos
que não se conformam em ser maltratados e põem a boca no trombone quanto isto acontece.
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