janio de freitas
27/06/2013 - 03h30
O caminho difícil
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É improvável que fosse este o seu propósito, mas Dilma Rousseff
mudou a natureza da "crise". De administrativa, em torno de
transporte urbano, segurança pública, educação, passou a institucional, com o
plebiscito e a constituinte concentrando os desentendimentos de praxe. Os
manifestantes das ruas cederam sua importância aos juristas, professores e,
claro, aos políticos. É o Brasil de volta a si mesmo, embora possa ser apenas
por dias, não há como saber.
O novo patamar de propostas não se mostra mais ordenado do que a
variedade de objetivos dos manifestantes. A par das divergências nas visões
jurídicas, as propostas contêm um frequente irrealismo político que as
enfraquece ou invalida a priori. Se, por exemplo, muitas medidas do reformismo
político não precisam de alteração constitucional, por se referirem a temas de
legislação ordinária, também é certo que as atuais composições da Câmara e do
Senado não aceitam sua modificação. Ou não as aprovam sem amoldá-las às suas
conveniências maiores.
Já partia também dessa realidade a proposta de constituinte, agora
tão relembrada, feita em 1997 pelo deputado Miro Teixeira e então apoiada por
Fernando Henrique. Em vez de prosperar com o apoio presidencial, o projeto foi
empurrado para o arquivo pela própria bancada parlamentar de Fernando Henrique.
Daí não se deduz que a constituinte é agora indispensável, mas que é preciso pensar
em mais do que legislação ordinária e emendas constitucionais tão simples e
fáceis na concepção de juristas e "cientistas políticos".
Ou seja, para chegar ao institucional é preciso, antes, considerar
o político.
Já na referência inicial a plebiscito, era dessa consideração que
o grupo do Planalto partia. O que Dilma fez foi "propor debate" sobre
"um plebiscito que autorize" a realização de uma constituinte com
limitação de temas. Não propôs o plebiscito nem a constituinte da qual se diz
que recuou, sem ter ido. Agora, aparentemente, a ideia de plebiscito avançou na
Presidência, com a mesma intenção de contornar os obstáculos parlamentares a
importantes partes de reforma política.
Mas, já de saída, a própria realização de plebiscito dependeria do
Congresso. E, se aprovado, é um recurso muito problemático, nas condições do
eleitorado brasileiro.
Plebiscito é a exposição de soluções diferentes para a
mesma questão, cabendo ao eleitor indicar a de sua preferência. Assim seria
para várias questões da reforma política. E qual é a proporção do eleitorado
com discernimento bastante para a escolha consciente entre questões tão
complexas?
A outra hipótese seria o referendo, em que a fórmula final já vai
definida para o eleitor, cabendo-lhe apenas indicar se a aceita ou não.
Formulação que teria de vir do Congresso, necessidade que leva o problema de
volta à dificuldade inicial.
O inventário das medidas essenciais para elevar o padrão das
instituições políticas não é difícil, considerado o atual consenso fora dos meios
políticos. Como efetivá-las, acima da barragem de interesses, é o que precisa
ser discutido. E isso continua no ponto zero.
MEMÓRIA
Delfim Netto negou à Comissão da Verdade de São Paulo qualquer
envolvimento com o apoio financeiro de empresários à repressão durante a
ditadura. Alguns, na comissão, reafirmaram suas suspeitas.
Na oposição ao regime militar, nunca se ouviu falar de tal
envolvimento do então ministro. A oposição foi a ele também, e dura, mas por
sua ação nos ministérios que ocupou.
A relação entre Delfim e o poder militar teve períodos --ao menos
períodos-- bastante peculiares. Um caso quase totalmente desconhecido: na época
mesma do "milagre econômico", no governo Médici, o empresário João
Alberto Leite Barbosa, dono do "Boletim Cambial", foi enviado a Nova
York por amigos do então ministro para adverti-lo de grande risco.
Militares
planejavam aproveitar sua viagem aos EUA, como participante de uma festa de
"Homem de Visão", para impedi-lo de voltar ao ministério. A qualquer
custo.
O governo frustrou o plano, com dificuldade comprovada, ao que
constou, pelas cabeças que logo rolariam na assessoria ministerial, como
compensação para os frustrados.
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