Jaime Cimenti
Poema em prosa sobre lidar com as
diferenças
Iscas
vivas (Esche vive), romance do italiano Fabio Genovesi, que é roteirista de
cinema e espetáculos teatrais e autor de reportagens para a Rolling Stone,
marca sua estreia literária no Brasil. O autor nasceu em Forte dei Marmi em
1974, já traduziu escritores do porte do norte-americano Hunter S. Thompson e,
nas horas vagas, tem como atividade principal a pesca esportiva. Iscas vivas
foi escrito em tom de prosa poética e mostra, acima de tudo, que a vida é um
jogo de sorte, que cabe às pessoas aproveitar-se dele da melhor forma.
A
narrativa brinca com aquela sabedoria despretensiosa de quem nunca se leva
muito a sério, mas sabe tocar a alma das coisas. Já no início da história o
narrador, em primeira pessoa, declara-se um idiota e trata de acabar com o
mitológico gênio renascentista Galileu Galilei, também chamado de idiota por
conta de umas considerações sobre matemática.
O
romance ensina a lidar com as diferenças, mostrando a trajetória de Fiorenzo,
que perdeu a mão direita por culpa de um rojão e, embora tenha reagido com
garra e criatividade, logo descobriu que, na vida, o que falta conta muito mais
do que aquilo que existe. Ele vive no interior da Toscana, não naquela dos
cartões-postais.
Quando
ele se sente abandonado pela mãe falecida, deixado de lado pelo pai, excluído
no colégio, sem namorada e com uma banda de heavy metal desconhecida, conclui
que o mundo conspira mesmo contra ele. Mirko, inteligentíssimo, mas ingênuo
(outro dos personagens) é um prodígio que tem relação dificílima com o sucesso
e Tiziana, uma neo-adulta que não consegue abandonar suas raízes e deslanchar
na vida, completam o trio principal da obra. Com ênfase nos sentimentos e
mazelas dos personagens, Genovesi descreve com muita sensibilidade a realidade
e os hábitos de uma pequena cidade.
Os
problemas que jovens e adultos têm dentro de si, escondidos pelas aparências,
são revelados e, nesses momentos, quando os instintos ficam à flor da pele,
todos acabam tomando as atitudes mais importantes de suas vidas.
Falando
de ciclismo, pescarias, música e amor, esperanças e desilusões, mutilações
internas e externas, temas que o escritor domina, os leitores se deparam com a
face autêntica da província italiana, com seus velhos jogando cartas e outros
detalhes. Com sua escrita aguda, ligeira, viva e palpitante, o escritor,
literalmente, perfura a superfície da vida e atinge suas profundezas, como uma
isca que mergulha na água escura. Bertrand Brasil, 448 páginas,
mdireto@record.com.br.
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