sexta-feira, 28 de junho de 2013

Jaime Cimenti

Poema em prosa sobre lidar com as diferenças

Iscas vivas (Esche vive), romance do italiano Fabio Genovesi, que é roteirista de cinema e espetáculos teatrais e autor de reportagens para a Rolling Stone, marca sua estreia literária no Brasil. O autor nasceu em Forte dei Marmi em 1974, já traduziu escritores do porte do norte-americano Hunter S. Thompson e, nas horas vagas, tem como atividade principal a pesca esportiva. Iscas vivas foi escrito em tom de prosa poética e mostra, acima de tudo, que a vida é um jogo de sorte, que cabe às pessoas aproveitar-se dele da melhor forma.

A narrativa brinca com aquela sabedoria despretensiosa de quem nunca se leva muito a sério, mas sabe tocar a alma das coisas. Já no início da história o narrador, em primeira pessoa, declara-se um idiota e trata de acabar com o mitológico gênio renascentista Galileu Galilei, também chamado de idiota por conta de umas considerações sobre matemática.

O romance ensina a lidar com as diferenças, mostrando a trajetória de Fiorenzo, que perdeu a mão direita por culpa de um rojão e, embora tenha reagido com garra e criatividade, logo descobriu que, na vida, o que falta conta muito mais do que aquilo que existe. Ele vive no interior da Toscana, não naquela dos cartões-postais.

Quando ele se sente abandonado pela mãe falecida, deixado de lado pelo pai, excluído no colégio, sem namorada e com uma banda de heavy metal desconhecida, conclui que o mundo conspira mesmo contra ele. Mirko, inteligentíssimo, mas ingênuo (outro dos personagens) é um prodígio que tem relação dificílima com o sucesso e Tiziana, uma neo-adulta que não consegue abandonar suas raízes e deslanchar na vida, completam o trio principal da obra. Com ênfase nos sentimentos e mazelas dos personagens, Genovesi descreve com muita sensibilidade a realidade e os hábitos de uma pequena cidade.

Os problemas que jovens e adultos têm dentro de si, escondidos pelas aparências, são revelados e, nesses momentos, quando os instintos ficam à flor da pele, todos acabam tomando as atitudes mais importantes de suas vidas.

Falando de ciclismo, pescarias, música e amor, esperanças e desilusões, mutilações internas e externas, temas que o escritor domina, os leitores se deparam com a face autêntica da província italiana, com seus velhos jogando cartas e outros detalhes. Com sua escrita aguda, ligeira, viva e palpitante, o escritor, literalmente, perfura a superfície da vida e atinge suas profundezas, como uma isca que mergulha na água escura. Bertrand Brasil, 448 páginas,


mdireto@record.com.br.

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