ELIANE
CANTANHÊDE
A revolução do
tomate
BRASÍLIA
- O grande ausente das manifestações, vamos convir, foi o tomate. O confronto
entre o aumento de preços e a corrupção foi a gota d'água que empurrou as
pessoas às ruas e às portas dos palácios.
Como
bem explicitou a Folha, os protestos são contra "tudo". Logo, não são
contra a presidente Dilma Rousseff. Mas são também contra ela e o que
representa, tanto que a marca da quinta-feira foi que os manifestantes chegaram
perigosamente perto do Palácio do Planalto.
Dilma
demorou demais a falar, demonstrou fraqueza ao correr para o colo de Lula e o
pronunciamento de sexta-feira foi mais do mesmo quando presidentes se sentem
sob pressão, em apuros. Convocou
um pacto nacional, prometeu reforma política, elogiou as manifestações
democráticas, condenou os excessos e anunciou medidas que levam anos para ter
resultados. Só faltou criar uma comissão.
A
reação não resolve um grande problema de Dilma neste momento: a falta de
discurso político.
Internamente,
ela perde uma das principais armas para enfrentar o pibinho, a inflação, o
aumento dos juros, a Bolsa despencando e o dólar insolente: os bons índices de
emprego. Em meio à crise, passou quase despercebida a notícia de que a criação
de vagas formais em maio é a menor em 21 anos. Isso, apesar de previsível, é
demolidor sob o ponto de vista econômico e político.
Externamente,
Dilma também perde a chance de repetir em futuras viagens internacionais,
principalmente a Washington, em outubro, a arrogância de dizer que EUA,
Alemanha e África do Sul, por exemplo, deveriam seguir a política econômica
brasileira. Isso já era.
Falta
muito tempo para a eleição, os aliados não têm saída e a oposição parece
invisível. Mas não é à toa que manifestantes optam pelo voto quimera em Joaquim
Barbosa. No fim das contas, Dilma continua favorita, mas ser reeleita só por
exclusão não parece nada alvissareiro.
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