sábado, 22 de junho de 2013


22 de junho de 2013 | N° 17469
ARTIGOS - FêCris Vasconcellos*

Para entender os jovens

“O gigante acordou.” Nem que eu viva 1 milhão de anos, vou esquecer da frase escrita em diversos cartazes pelas ruas do Brasil nas manifestações da última semana. Como essa, outras placas com ditos inteligentes – por vezes irônicos – coloriam aquela multidão. Multidão que tomava todo o viaduto da João Pessoa, formava um mar de gente pulando, cantando e marchando.

Contudo, para entender os jovens, é preciso mais que entender as ironias. É preciso enxergar o mundo em que vivemos pela nossa perspectiva complexa, emocional e pós-moderna. É preciso saber que para sair às ruas não é preciso sair do Facebook, que enquanto alguns acham que estamos isolados, estamos cada vez mais unidos pelo que nos comove e usando as redes sociais como cola.

A insatisfação generalizada não faz dos jovens “rebeldes sem causa”, mas rebeldes de todas as causas, as deles e as dos outros. Infelizmente, a falta de foco e de informação sobre quais são as reais soluções para os problemas e o que se quer do governo tira o brilho da manifestação. A legitimidade dos próximos protestos está sendo colocada em xeque. É muito importante também saber como se quer o que se quer para o Brasil. Democracia é sair para a rua, mas também nos dá outros direitos e deveres.

A violência, característica de toda grande manifestação popular – vimos acontecer na Europa, nos Estados Unidos, na Argentina, no Oriente Médio –, não é apoiada pela maior parte da população e deve ser combatida, mas é preciso pensar além da superfície. O que está por trás dessa violência? O que motiva essa minoria a querer quebrar tudo? Será falta de educação? Será truculência policial? Será abandono total por parte do governo? Será a marginalização por parte da sociedade de classe média e média alta? Em todos os casos, tem a mão de cada cidadão e governante.

Quem entende o momento de mudança no cerne da sociedade, as demonstrações frequentes dos partidos políticos, a impunidade generalizada, entende que não há outra alternativa senão a articulação popular. Condenar essa iniciativa é chancelar o pensamento que manteve amarradas as mãos da sociedade por muitos anos, com o anestesiante “não há o que fazer”.

Para entender os jovens, é preciso chegar mais perto, perguntar de verdade “o que vocês querem?” e “como posso ajudar?”. É preciso despir-se de preconceitos, é preciso ver quem são realmente esses milhares que tomam as ruas.


* JORNALISTA

Nenhum comentário: