20
de junho de 2013 | N° 17467
ARTIGOS
- Celito de Grandi*
As “chispas” da indignação
Aqueles
que dialogaram com o sociólogo espanhol Manuel Castells, semana passada, no
ciclo Fronteiras do Pensamento, recolheram bons subsídios para refletir sobre o
que ocorre nas ruas e praças de grandes metrópoles, no Brasil e no mundo, com
protestos nem sempre pacíficos.
Castells
é autor de vários livros, com destaque para a trilogia A Era da Informação,
estudo fundamental sobre os impactos da tecnologia na política, na cultura, na
economia, na sociedade. É hoje um dos pensadores mais requisitados em
universidades e em fóruns de debates sobre as implicações de um mundo cada vez
mais conectado através de redes sociais.
São “chispas
de indignação”, disse o soció-logo, para definir a onda de protestos que invade
o mundo.
Lembrou
que essas “chispas” foram identificadas no Occupy Wall Street, ocorrido em
dezenas de cidades americanas; no movimento espanhol Indignados e na ocupação
da Praça Taksim, na Turquia.
Neste
último caso, os protestos iniciais tiveram por motivação o projeto do governo
de substituir a praça por um conjunto arquitetônico de interesse empresarial. Pacífico,
inicialmente, o movimento passou a aglutinar insatisfações de todas as origens,
muitas delas de indignação contra o governo.
Há similitude
nas ações: não existe um líder formal, tal qual estamos acostumados; articula-se
a ocupação de espaços públicos, na internet e nas cidades; são movimentos autônomos,
locais e globais; quanto mais repressão, mais imagens.
E as
imagens são essenciais, elas é que serão reproduzidas nas redes sociais para
gerar ainda mais protestos.
Parece
claro que esses movimentos todos reivindicam mudanças e mais democracia, sem
que se saiba, exatamente, que tipo de democracia é essa assim reivindicada.
No caso
do Brasil, são muitas as razões que justificam os protestos. Além da tarifa do
transporte coletivo, há na voz das ruas “chispas” pelos gastos exagerados do
governo, pela corrupção e pela impunidade, pela péssima qualidade da educação e
da saúde, pelo elevado custo de vida.
Muitos
não concordam com os custos dos estádios construídos para as Copas. Ou se
imagina que o povo aceita a insensatez da construção de um Mané Garrincha, em
Brasília, ao custo de R$ 1,3 bilhão, para sediar meia dúzia de jogos? E o que
será feito desses gigantescos equipamentos em cidades e Estados onde nem sequer
há equipes de futebol?
Essas
“chispas de indignação”, originadas de emoções populares, é que provocam mudanças
sociais ao longo da História.
*JORNALISTA
E ESCRITOR
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