24
de junho de 2013 | N° 17471
LETICIA
WIERZCHOWSKI
Loucos de cara
Toda
essa gente nas ruas me dá um nó na garganta. Eu sei que, sendo escritora, tenho
uma certa tendência à utopia, mas um começo sempre é um começo, e andar é melhor
do que ficar parado. As passagens baixaram em várias capitais, e olha que – tirante
Porto Alegre, que vem gritando há mais tempo – São Paulo e Rio saíram às ruas há
cerca de uma semana. E as passagens baixaram.
Para
aqueles que dizem que falta foco e liderança, eu peço apenas que vejam o que
essa gente nas ruas já conseguiu. Alguém lembra de uma redução nas tarifas de
transporte público? Isso deve ter sido gritado em muitos palanques eleitorais
por aí afora, mas só quando foi gritado nas ruas – por gente de todos os tipos,
trabalhadores, profissionais liberais, estudantes, mães, avós – foi que
realmente aconteceu.
Um
movimento plano, com um poder viral impressionante, e sabe por quê? Porque
somos um país de “loucos de cara” (e, Vitor Ramil, me perdoe a licença do uso
dessa música de chorar de tão linda, que eu acho um hino a essa gente se
manifestando).
Sou
absolutamente contra as depredações. Sou contra qualquer tipo de violência,
como a que aconteceu na noite da última quinta-feira em Brasília, e em tantas
cidades, inclusive Porto Alegre (lastimável o final grotesco de uma passeata tão
bonita).
Mas
o que ficou para mim nesta semana e o que eu mostrei para os meus filhos,
quando assistimos juntos aos telejornais dos últimos dias, é que um povo honesto
e trabalhador não pode ficar calado, não pode baixar a cabeça e abrir os bolsos
para sempre, enquanto uma pequena classe de representantes que não representam
mais ninguém (e nem vou falar aqui do Feliciano) faz e acontece por aí.
Se o
Brasil tem futuro, ele está nessa gente andando pelas ruas das nossas cidades,
essa gente pacífica, essa gente honesta e trabalhadora, pedindo um basta na
corrupção, na violência urbana, na falta de educação e de saúde pública. Como
diz a música do Vitor: “Se um dia qualquer, ter lucidez for o mesmo que andar,
e não notares que andas o tempo inteiro/ É sinal que valeu, pega carona no
carro que vem, se ele é azul não importa, fica na tua”.
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