12
de junho de 2013 | N° 17460
MARTHA
MEDEIROS
O amor mais que romântico
Quando
era criança, assistia a filmes e novelas românticas e pensava: será que um dia
escutarei “eu te amo” de alguém? É bem verdade que ouvia todo dia da minha mãe,
mas não era do mesmo jeito que o Francisco Cuoco dizia para a Regina Duarte. Eu
sonhava com o “te amo” apaixonado, dito por um homem lindo, e com a voz um
pouco trêmula, para deixar sua emoção bem evidente. Será que era invenção do
cinema e da tevê, ou essas coisas poderiam acontecer mesmo?
Passou
o tempo. Cresci, ouvi e retribuí. Clichê? Que seja, mas não há quem não se
emocione ao escutar e ao dizer, ao menos nas primeiras vezes, em pleno
encantamento da relação, quando a declaração ainda é fresca, pungente,
verdadeira, a confirmação de algo estupendo que se está experimentando, um
sentimento por fim alcançado e que se almeja eterno. Depois ele entra no
circuito automático, vira aquele “te amo” dito nos finais dos telefonemas, como
se fosse um “câmbio, desligo”.
O
tempo seguiu passando, e me encontro aqui, agora, descobrindo que há outro tipo
de “te amo” a ser escutado e falado, diferente dos que acontecem entre pais e
filhos e entre amantes. É quando o “te amo” não é dito a fim de firmar um
compromisso, para manter alguém a par das nossas intenções ou experimentar uma
cena de novela.
Ele
vem desvinculado de qualquer mensagem nas entrelinhas, não possui nenhum caráter
de amarração e tampouco expectativa de ouvir de volta um “eu também”. É singular.
Estou falando do amor declarado não só quando amamos com romantismo, mas também
de outra forma.
Explico:
tenho dito “te amo” para amigas e amigos e escutado deles também. Uma declaração
bissexual e polígama, que resgata esse sentimento das garras da adequação. Volta
a ser o amor primitivo, verdadeiro, sem nenhuma simbologia, puro afeto real. Amor
por pessoas que não conheci ontem num bar, e sim por quem já tenho uma história
de vida compartilhada.
Amor
manifestado espontaneamente àqueles que não me exigem explicações, que apoiam
minhas maluquices, que fazem piada dos meus defeitos, que já tiveram acesso ao
meu raio X emocional e sabem exatamente o que levo dentro – e eu, da mesma
forma, tudo igual em relação a eles. Mais do que nos amamos – nos sabemos.
É um
“te amo” que cabe ser dito inclusive aos ex-amores, ao menos aos que nos
marcaram profundamente, aos que nos auxiliaram na composição do que nos
tornamos, e que mesmo nos tendo feito sofrer, foram fundamentais na caminhada
rumo ao que somos hoje. E indo perigosamente mais longe: esse ex-amor pode
ainda ser seu marido ou sua mulher, mesmo já não fazendo seu coração saltar da
boca. Pelo trajeto percorrido, e por ter alcançado o posto de um amigo mais que
especial, merece uma declaração igualmente comovida.
É quando
o “eu te amo” deixa de ser sedução para virar celebração.
Linda
quarta-feira pra vc leitor ou leitora deste blogger. Feliz Dia dos Namorados
pra você...
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