29
de junho de 2013 | N° 17476
CLÁUDIA
LAITANO
Corra,
camarada
Um
dos cartazes mais simpáticos das passeatas dos últimos dias era carregado por
um pequeno grupo de senhores calvos e barrigudinhos: “Os jovens de 1968 apoiam
os jovens de 2013¨.
1968
não é uma data, mas um emblema com mais de um significado. O 68 do cartaz
provavelmente é o do combate à ditadura brasileira, o da passeata dos 100 mil,
o do melancólico dezembro do AI-5. O Junho de 2013 brasileiro, porém, talvez se
aproxime mais do Maio de 68 da França democrática – uma insurreição popular que
saiu do controle dos partidos e acabou superando barreiras de idade, de classe
e de coloração política.
O
movimento francês começou com greves de estudantes, se fortaleceu com a
repressão policial e acabou absorvendo causas diversas. Como hoje, havia um
clamor por “mudança de valores”.
Cartazes
com ideias novas sobre família, sexo, educação e trabalho antecipavam muitas
das mudanças de comportamento que seriam assimiladas nos anos seguintes em boa
parte das democracias ocidentais. Havia insatisfação política, evidentemente,
mas o que eclodiu em 1968 foi menos o tradicional conflito entre esquerda e
direita do que o simples e belo desbunde generalizado.
O
2013 brasileiro e o que vem acontecendo, desde 2008, em países tão diferentes
quanto Islândia, Egito, Espanha e Estados Unidos, por diferentes motivos, têm
em comum a forma como os movimentos se articularam na rede antes de chegarem à
rua. Como aconteceu com o Maio de 68, o futuro deve se encarregar de confirmar
o quanto esses movimentos apontam para alguma espécie de tendência global –
como a revolução dos costumes dos anos 60 foi de certa forma anunciada pelas
revoltas de Paris.
Desde
já, cotejar as insatisfações dessas duas gerações de manifestantes, os
baby-boomers de 68 e a Geração Y dos anos 2010, pode ser revelador. Nos anos
60, era o desejo que pedia passagem nos slogans da rua (“As reservas impostas
ao prazer excitam o prazer de viver sem reserva”). Os jovens viam no professor,
no pai, no patrão figuras que se colocavam entre eles e o cabelo comprido, o
rock, o sexo sem compromisso.
Nos
anos 2010, o professor, o pai e mesmo o patrão se sentem coagidos a partilhar
da visão de mundo dos jovens em vários aspectos. Seus pais (avós?) ganharam
essa parada por eles: adultos não são o inimigo. (Slogan de Maio de 1968:
“Professores, vocês fazem-nos envelhecer”. Slogan de Junho de 2013: “Professor,
eu desejo a você o salário de um deputado e o prestígio de um jogador”.)
O
que esses garotos querem se já podem quase tudo? Palpite: transferir para a
esfera pública o poder a que se acostumaram na esfera privada, espanar as teias
de aranha da democracia e, se possível, reinventar a pólis como outras gerações
reinventaram a família e o trabalho.
“Corra,
camarada, o velho mundo está atrás de você.” 1968 ou 2013? Tanto faz.
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