14
de junho de 2013 | N° 17462
DAVID
COIMBRA
12 anos
Outro
dia, o meu amigo Niba contemplou uma foto sua e comentou: – Que estranho. Nesta
foto parece que tenho cabelos brancos...
Riram
todos que o ouviam: os cabelos do Niba, se não são brancos, são grisalhos; o
que é a mesma coisa.
Mas
eu o entendo. Às vezes vejo uma foto minha e me assusto: ei, esse não é aquele
cara que vejo no espelho! O cara do espelho é muito mais jovem.
Por
que as imagens são diferentes, a do espelho e a da foto? Suponho que, na foto,
eu me distanciei de mim mesmo. É como se fosse outra pessoa observando a
imagem. Quando me miro no espelho, não. Quando me miro no espelho, sou eu
comigo mesmo, um momento íntimo, de autocontemplação.
Ocorre
que, na verdade, não tenho essa idade cronológica que o tempo me impôs. Tenho
12 anos de idade. Acredite. Todas as coisas que sinto são as mesmas de quando
tinha 12 anos. Percebo isso com clareza quando estou com meus amigos. Nossas
brincadeiras, nossas conversas, nossas risadas e nossos interesses são de guris
de 12 anos de idade.
Ainda
sonhamos sonhos de guris e, quando nos despedimos, no fim da noite, nos
despedimos uns dos outros e também dos guris que somos. Voltamos a ser homens.
Tristemente.
Quando
brinco com meu filhinho de cinco anos, não sou o pai dele, sou um amigo um
pouco mais velho. Por isso nossas brincadeiras funcionam. Por isso nos
divertimos tanto.
Mas
o momento em que identifico com mais solidez a minha verdadeira idade, quando
sei que tenho mesmo 12 anos, é quando olho para uma mulher.
Qualquer
mulher, em qualquer situação.
Quando
tinha 12 anos, cristalizou-se esse fascínio que nutro pelas mulheres. Uma mulher
tem o jeito de cruzar as pernas trançando a canela direita por trás da esquerda
numa contorção improvável. Uma mulher, ao experimentar o perfume, fecha a mão e
cheira o próprio punho.
Uma
mulher morde uma mecha do cabelo que lhe cai ao lado da nuca. Uma mulher, ao
examinar o estado das unhas, estica o braço, dobra a mão em arco e leva no
rosto o ar grave de quem executa uma atividade vital.
Esses
pequenos gestos das mulheres me hipnotizam desde que tinha 12 anos. E os
grandes gestos também.
Só
as mulheres são capazes de certas generosidades. Ainda hoje, às vezes uma
mulher que mal conheço me abraça com carinho, me olha com ternura. É comovente.
Não há nada de sexual naquilo, não raro essa mulher é muito mais velha do que
eu. Entendo o que ela sente.
É o
instinto maternal que lhe brota. Porque ela sabe, ela vê, as mulheres são
capazes de ver: ali, diante dela, com cabelos grisalhos nas frontes, não está
um homem. Está um menino de 12 anos de idade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário