13
de junho de 2013 | N° 17461
EDITORIAIS
ZH
ATITUDE
CONSTRANGEDORA
Se
já era esdrúxula a situação do governador em exercício de São Paulo, Afif
Domingos, coabitante de administrações do PT, em nível federal, e do PSDB, em
nível estadual, sua exoneração temporária do Ministério da Micro e Pequena
Empresa a fim de assumir o Palácio Bandeirantes adquire um caráter surrealista
para qualquer um que não veja a política como o reino em que tudo é permitido.
Integrante do DEM, partido que se coligou ao PSDB do governador Geraldo Alckmin
na eleição paulista de 2010, Afif transferiu-se para o PSD em 2011,
afastando-se dos tucanos.
Na
esfera federal, sua nova sigla encontrou nos últimos meses uma súbita afinidade
com o PT. Indiferente a essas idas e vindas, Afif não vê inconveniente em
manter um pé em cada canoa.
Em
maio, Afif havia sido nomeado para o ministério pela presidente Dilma Rousseff
e anunciou que não renunciaria ao mandato de vice-governador. Na sexta-feira,
Afif pediu exoneração do cargo federal a fim de ocupar interinamente o governo
de São Paulo durante uma viagem de Alckmin à França. Com o retorno do
governador, Afif deve ser renomeado hoje para o ministério.
Não
há sequer a preocupação em dar a essa dança de cadeiras marcadas uma aparência
de algo que não seja fisiologismo.
Considere-se
que os dois partidos não se distanciaram há pouco tempo. De fato, tucanos e
petistas constituem os polos opostos da vida política nacional há pelo menos 20
anos, período mais do que suficiente para que sejam explicitadas diferenças, se
não claramente programáticas, pelo menos de natureza política, expressas em
cinco eleições presidenciais nas quais os candidatos de ambas as siglas foram
os principais contendores.
Ainda
que, no âmbito da Assembleia Legislativa de São Paulo, o assunto tenha assumido
contornos de duelo político, com os tucanos pregando a perda de mandato de Afif
em razão da suposta inconstitucionalidade no acúmulo dos dois cargos e os
petistas defendendo sua permanência, deve-se admitir que a responsabilidade por
essa situação é do próprio governador em exercício. Mesmo que não se encontrem
bases legais para sua condenação, é forçoso reconhecer que o comportamento de
Afif é moralmente inaceitável.
Se a
atitude de Afif é injustificável, a da presidente Dilma Rousseff, que o
exonerou “a pedido” por meio de portaria publicada no Diário Oficial da União
de sexta-feira, é, no mínimo, conivente com essa forma constrangedora de se
fazer política. É público e notório que o exonerado tem lugar cativo no
ministério. Dessa forma, soma-se a chefe do Executivo ao triste baile de
máscaras em que se transformou a vida partidária brasileira, na qual o que cada
vez menos se espera são atitudes pautadas pela coerência e pela ética. Torna-se
difícil, assim, convencer o mais crédulo cidadão da necessidade de se levar a
sério a coisa pública.
Se
já era esdrúxula a situação do governador em exercício de São Paulo, Afif
Domingos, coabitante de administrações do PT, em nível federal, e do PSDB, em
nível estadual, sua exoneração temporária do Ministério da Micro e Pequena
Empresa a fim de assumir o Palácio Bandeirantes adquire um caráter surrealista
para qualquer um que não veja a política como o reino em que tudo é permitido.
Integrante do DEM, partido que se coligou ao PSDB do governador Geraldo Alckmin
na eleição paulista de 2010, Afif transferiu-se para o PSD em 2011,
afastando-se dos tucanos.
Na
esfera federal, sua nova sigla encontrou nos últimos meses uma súbita afinidade
com o PT. Indiferente a essas idas e vindas, Afif não vê inconveniente em
manter um pé em cada canoa.
Em
maio, Afif havia sido nomeado para o ministério pela presidente Dilma Rousseff
e anunciou que não renunciaria ao mandato de vice-governador. Na sexta-feira,
Afif pediu exoneração do cargo federal a fim de ocupar interinamente o governo
de São Paulo durante uma viagem de Alckmin à França. Com o retorno do
governador, Afif deve ser renomeado hoje para o ministério.
Não
há sequer a preocupação em dar a essa dança de cadeiras marcadas uma aparência
de algo que não seja fisiologismo. Considere-se que os dois partidos não se
distanciaram há pouco tempo. De fato, tucanos e petistas constituem os polos
opostos da vida política nacional há pelo menos 20 anos, período mais do que
suficiente para que sejam explicitadas diferenças, se não claramente
programáticas, pelo menos de natureza política, expressas em cinco eleições
presidenciais nas quais os candidatos de ambas as siglas foram os principais
contendores.
Ainda
que, no âmbito da Assembleia Legislativa de São Paulo, o assunto tenha assumido
contornos de duelo político, com os tucanos pregando a perda de mandato de Afif
em razão da suposta inconstitucionalidade no acúmulo dos dois cargos e os
petistas defendendo sua permanência, deve-se admitir que a responsabilidade por
essa situação é do próprio governador em exercício. Mesmo que não se encontrem
bases legais para sua condenação, é forçoso reconhecer que o comportamento de
Afif é moralmente inaceitável.
Se a
atitude de Afif é injustificável, a da presidente Dilma Rousseff, que o
exonerou “a pedido” por meio de portaria publicada no Diário Oficial da União
de sexta-feira, é, no mínimo, conivente com essa forma constrangedora de se
fazer política. É público e notório que o exonerado tem lugar cativo no
ministério.
Dessa
forma, soma-se a chefe do Executivo ao triste baile de máscaras em que se
transformou a vida partidária brasileira, na qual o que cada vez menos se
espera são atitudes pautadas pela coerência e pela ética. Torna-se difícil,
assim, convencer o mais crédulo cidadão da necessidade de se levar a sério a
coisa pública.
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