sexta-feira, 21 de junho de 2013


21 de junho de 2013 | N° 17468
PAULO SANT’ANA

Entre a passeata e a lancheria

Estou notando um fato interessante: os manifestantes de rua estão esquecendo de colocar na pauta de suas reivindicações um problema grave da realidade brasileira.

Eles estão protestando nos cartazes e nas declarações à imprensa contra as obras públicas para a Copa do Mundo, contra o atendimento de saúde, contra, é claro, o aumento do preço das tarifas de ônibus e outros aspectos.

Mas não estão listando entre os anseios a segurança pública. Será que estão esquecendo ou será que acham boa a segurança pública?

Um conhecido empresário gaúcho, proprietário ou sócio de inúmeras empresas, homem de sólido patrimônio pessoal e empresarial, ficou abismado quando no almoço em sua casa, segunda-feira passada, sua filha de 17 anos disse para ele que estava apressada porque precisava ir para o local das manifestações, fazia parte de um grupo que organizava os comícios.

É incrível, até os ricos saíram para as ruas.

Outro manifestante estava no meio da multidão que se aproximava com milhares de pessoas da Avenida Ipiranga, em Porto Alegre. De repente, caíram em cima dele três manifestantes que arrancaram de suas mãos o cigarro que fumava.

E um dos manifestantes lhe disse: “Nosso movimento não permite que se fume durante as ações. Temos de transmitir só exemplos virtuosos”. Assisti a uma interessante entrevista na televisão: a repórter perguntou a uma manifestante que estava no centro da passeata o que fazia ali.

Ela respondeu: “Eu mesmo não sei”. E a repórter insistiu: “Mas como você não sabe, se está no meio do povo?”. E a manifestante: “E você queria que eu estivesse no meio da elite?”.

Contaram-me que, na Avenida João Pessoa, um proprietário de lancheria, apesar da passeata diante de seu estabelecimento, permaneceu com as portas abertas.

Ele atendia na lancheria e corria para o meio das manifestações, entoando os slogans dos manifestantes. Logo em seguida voltava para atender na lancheria. E em seguida voltava para a passeata.

A isso se chama de dedicação simultânea ao ideal político e ao dever profissional.


E, quando o Grêmio voltar ao Brasileirão, se Luxemburgo continuar a não achar solução para o time, haverá passeata nas ruas contra ele?

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