25
de junho de 2013 | N° 17472
CLÁUDIO
MORENO
É assim que deve
ser
Como
dizia Montaigne, ninguém sai de mãos abanando quando lê alguma página de
Sêneca, o pensador romano que melhor escreveu sobre a natureza humana. Como um
diamante de um tesouro muito antigo, o que ele disse há dois mil anos sobre
nossa existência nunca vai perder seu valor, como se vê no trecho abaixo, que
parece ter sido escrito para todos nós, os brasileiros de hoje – tanto para os
mais jovens, que saem às ruas com o entusiasmo de quem tudo quer mudar, quanto
para os mais velhos, que lamentam que este mundo não mais tenha remédio.
Sêneca,
que conheceu muito bem os tempos de crise (foi homem influente na corte do
imperador Nero!), descreve uma sensação que todos nós conhecemos: “Nossos
antepassados assim se queixavam, assim nós também nos queixamos, e assim vão se
queixar nossos netos e bisnetos: todo mundo é corrupto, a maldade sempre vence
e nossa sociedade despenca velozmente pela ladeira que conduz à decadência!
No
entanto, não há nada de novo acontecendo: tudo está como sempre foi, e assim
vai continuar. O que muda é a direção – ora um pouco mais para lá, ora um pouco
mais para cá, como as ondas do mar, que sobem mais ou menos na areia da praia,
dependendo da maré”.
Como
se vê, tudo está em seu lugar. Que a voz da experiência tenha um tom mais
pessimista, nada mais natural – o que não impede, porém, que uma das grandes
glórias da juventude seja exatamente ignorar as previsões dos mais velhos para
lançar-se nas asas da esperança e da imaginação. Não faz mal que, para uns, a
Idade de Ouro tenha ficado lá atrás, enquanto outros jurem que ela nos espera
lá adiante, no futuro. Todos estão cumprindo o seu papel, e é necessário que
assim seja.
Quanto
ao futuro, aliás, sempre é bom lembrar o que nos conta Beda, o Venerável, em
sua História Eclesiástica do Povo Inglês: no séc. 7, no início da Idade Média,
um dos conselheiros do rei Edwin, da Nortúmbria, criou uma famosa metáfora para
descrever a condição humana:
“Nossa
vida se assemelha ao curto voo de um pardalzinho que atravesse a sala de
banquetes, aquecida por um bom fogo, onde Vossa Majestade e seus conselheiros
estejam reunidos para jantar, numa fria noite de inverno.
A
avezinha entra por uma porta e sai por outra; enquanto voa pela sala, está
livre da gélida tormenta e pode aproveitar a luz e o calor da chama da lareira
– mas logo estará lá fora, outra vez, mergulhando de novo no frio e na
escuridão. Assim é a nossa vida, meu rei: nós a temos por pouco tempo, e nada
sabemos do que veio antes e do que virá depois”.
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