20
de junho de 2013 | N° 17467
EDITORIAIS
O DESAFIO DA MAIORIA
Diz
muito sobre a natureza do movimento de protesto que tomou as ruas do país nos últimos
dias a entrevista a Zero Hora da estudante Laura Bittencourt, que ergueu um
cartaz com um verso inspirado em Chico Buarque na manifestação de 17 de junho,
em Porto Alegre.
Estudante
de escola pública da Capital, a jovem de 16 anos traduziu em palavras simples
as razões de centenas de milhares de brasileiros de sua geração para subir ao
palco da história. Estão investindo muito em estádios, e ficamos tristes em ver
a educação e a saúde serem deixadas de lado, a gente gostaria que nos
escutassem e mudassem algumas atitudes erradas conosco, acho errado quando
passam dos limites, quebrando casas, pichando prédios, afirmou Laura,
acrescentando que prefere não julgar os membros radicais.
A
porto-alegrense, que apareceu numa imagem na capa de Zero Hora de terça-feira
erguendo um cartaz com os dizeres “O dia vai raiar sem lhe pedir licença”,
contraria o estereótipo de que a juventude de hoje é individualista e
despreocupada com os grandes temas nacionais. Também se distancia do apregoado
desinteresse de sua geração pela leitura. Em sua parede, exibe um varal com
versos de Mario Quintana, Paulo Leminski e Fernando Pessoa.
A
porto-alegrense representa a maioria dos manifestantes que estão mudando a história
do país neste já marcante junho de 2013, como demonstrou a caminhada pacífica
realizada na terça-feira em Florianópolis. E essa maioria que começa a ser
ouvida e compreendida tem agora um desafio: contribuir para que uma minoria
irresponsável não estrague tudo com atos de violência e vandalismo.
Gestos
como os dos que reergueram contêineres derrubados em Porto Alegre, na segunda-feira,
dos que improvisaram um cordão de isolamento para impedir a invasão da
prefeitura de São Paulo, na terça, ou dos que estenderam a mão a policiais
militares encurralados no Rio mostram que a onda que se ergueu no Brasil é predominantemente
da paz.
Movimentos
que contribuíram para fazer avançar a democracia e a justiça social no Brasil,
como a campanha das Diretas, registraram episódios isolados de saques e depredações.
Tão isolados, que foram insuficientes para tisnar o aspecto preponderante
dessas mobilizações, motivadas pela justa e cívica intenção de melhorar o país.
As
marchas pelo país afora já obtiveram importantes acenos das autoridades, como a
redução nos valores das tarifas em São Paulo, Recife, João Pessoa e Cuiabá, a
possibilidade de redução em Porto Alegre e a presumida intenção de alguns
parlamentares de deter a tramitação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº
37, que limita o poder do Ministério Público. Só é possível persistir nesse
caminho de mudanças se a iniciativa moral e republicana continuar do lado dos
cidadãos.
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