ELIO
GASPARI
O monstro foi para a
rua
JK
percebeu quando ele saiu da caverna, o mesmo que depois pôs Fernando Collor
para fora do Planalto
Em
dezembro de 1974, a oposição havia derrotado a ditadura nas urnas, elegendo 16
dos 21 senadores, e o ex-presidente Juscelino Kubitschek estava num almoço
quando lhe perguntaram o que acontecia no Brasil.
-- O
que vai acontecer, não sei. Soltaram o monstro. Ele está em todos os lugares.
Abaixou-se,
como se procurasse alguma coisa embaixo da mesa e prosseguiu:
--
Ele está em todos os lugares, aqui, ali, onde você imaginar.
--
Que monstro? - A opinião pública.
Dois
anos depois JK morreu num acidente de automóvel e o monstro levou-o no ombros
ao avião que o levaria a Brasília. Lá ocorreu a maior manifestação popular
desde a deposição de João Goulart.
Em
1984 o general Ernesto Geisel estava diante de uma fotografia da multidão que
fora à Candelária para o comício das Diretas Já.
--
Eu me rendo --disse o ex-presidente, adversário até a morte de eleições diretas
em qualquer país, em qualquer época.
Demorou
uma década, mas o monstro prevaleceu. O oposicionista Tancredo Neves foi eleito
pelo Colégio Eleitoral e a ditadura finou-se.
O
monstro voltou. O mesmo que pôs Fernando Collor para fora do Planalto.
No
melhor momento de seu magnífico "Pós Guerra", o historiador Tony Judt
escreveu que "os anos 60 foram a grande Era da Teoria". Havia
teóricos de tudo e teorias para qualquer coisa. É natural que junho de 2013
desencadeie uma produção de teorias para explicar o que está acontecendo. Jogo
jogado. Contudo, seria útil recapitular o que já aconteceu. Afinal, o que
aconteceu, aconteceu, e o que está acontecendo, não se pode saber o que seja.
Aqui
vão sete coisas que aconteceram nos últimos dez dias:
1) O
prefeito Fernando Haddad e o governador Geraldo Alckmin subiram as tarifas e
foram para Paris, avisando que não conversariam nem com os manifestantes. Mudaram
de ideia.
2)
Geraldo Alckmin defendeu a ação da polícia na manifestação de quinta-feira
passada. Mudou de ideia e pacificou sua PM.
3) O
comandante da PM disse que sua tropa de choque só atirou quando foi apedrejada.
Quem estava na esquina da rua da Consolação com a Maria Antônia não viu isso.
4)
Dilma Rousseff foi vaiada num estádio onde a meia-entrada custou R$ 28,50 (nove
passagens de ônibus a R$ 3,20).
5) O
cartola Joseph Blatter, presidente da Fifa, mandarim de uma instituição metida
em ladroeiras, achou que podia dar lição de moral aos nativos. (A Viúva gastará
mais de R$ 7 bilhões nessa prioridade. Só no MaracanãX, torraram R$ 1,2
bilhão.)
6) A
repórter Fernanda Odilla revelou que o Itamaraty achou pequena a suíte de 81 m²
do hotel Beverly Hills de Durban, na África do Sul, e hospedou a doutora Dilma
no Hilton. (Por determinação do Planalto, essas informações tornaram-se
reservadas e, a partir de agora, só serão divulgadas em 2015.)
7) A
cabala para diluir as penas dadas aos mensaleiros que correm o risco de serem
mandados para o presídio do Tremembé vai bem, obrigado. O ministro Dias
Toffoli, do STF, disse que os recursos dos réus poderão demorar dois anos para
ir a julgamento.
Para
completar uma lista de dez, cada um pode acrescentar mais três, ao seu gosto.
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