17
de junho de 2013 | N° 17464
DAVID
COIMBRA
O táxi sumiu do
Rio
Cheguei
ao Galeão e não havia táxi. Éramos o quê? Cento e vinte? Cento e cinquenta
esperando por transporte? Em torno disso.
Paciência.
A gente só consegue aproveitar a vida de verdade se aprende a se conformar.
Instalei-me
no fim da fila. Ao lado havia um estrangeiro sentado no chão. Um europeu,
decerto. Os europeus têm o hábito de sentar no chão. Brasileiro, sentado no
chão, é mendigo. Europeu, sentado no chão, é viajante.
Esse
do Galeão devia ser um alemão, ou inglês. Era um homem grande e vermelho, devia
rondar a fronteira dos 40 anos de idade. Tinha às costas, apoiada na parede,
uma mochila quase do tamanho de um fogão. E, à frente, entre as pernas cruzadas
como um índio, uma pasta 007 com laptop dentro. Ele escrevia naquele laptop.
Escrevia
e escrevia, compenetrado. Seria um colega jornalista? Cheguei a pensar em
perguntar, mas, de repente, ele levantou a cabeça e jogou para o ar da noite um
olhar hostil. Preferi a cautela da distância.
Depois
de 25 minutos, embarquei em um táxi. Arrancamos rumo a Copacabana e o motorista
apontou para o outro lado da rodovia, onde os carros estavam paralisados num
engarrafamento de quilômetros.
–
Olha ali! – disse ele, e a ira santa lhe escorria queixo abaixo. – Tudo parado!
O dinheiro está lá – e, sem me olhar, atirou o polegar para trás, na direção do
aeroporto que deixávamos. – É lá que está o dinheiro! Mas, pra gente voltar,
leva mais de uma hora, se tiver sorte. O dinheiro está lá! – repetia. – O
dinheiro está lá!
E
seguia em frente, cada vez mais longe do dinheiro, cada vez mais triste. Acordei
às 7h da manhã de domingo com aquele som grave vindo do verde-azul do mar:
UOOOOOOOOON...
Ainda
na cama, abri os olhos e fiquei pensando. É um apito de navio, concluí. Um
apito de navio...
Levantei-me
e puxei a cortina. Vi a grande boca, que é a praia de Copacabana, sorrir para
mim. Fazia um dia claro de sol e temperatura amena. As pessoas já caminhavam
pela pista interditada da Avenida Atlântica. Alguns pedalavam. Na areia, duas
meninas de biquíni conversavam sentadas em uma canga.
Um
grupo de amigos caminhava molemente, um deles com uma bola embaixo do braço.
Mais uma dezena de metros para frente, as ondas quebravam em espuma branca. E
lá adiante, no mar preguiçoso, o navio deslizava na direção do Forte, sereno e
poderoso como uma imensa baleia.
Decidi
vestir minha bermuda e sair para passear. Como é bom acordar com o som
comprido, distante, vigoroso, nostálgico de um apito de navio.
Jornalistas
de todo o mundo estão revoltados: uma garrafinha de água mineral sem gás e um
café custam R$ 11 no centro de imprensa do Maracanã.
Há
polícia por toda parte, no Rio. As forças de segurança triplicaram. São mais de
7 mil homens. Na Zona Sul, mesmo tarde da noite, encontra-se uma viatura da
polícia a cada três quarteirões de caminhada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário