sexta-feira, 21 de junho de 2013

Jaime Cimenti

Propaganda de margarina

O presidente falou para o Cadu, diretor de criação: nosso cliente, fabricante de margarina, quer uma campanha diferente, quer vender muuuuito, fazer história. Se vira, só não pensa em casal e filhos maravilhosos no café da manhã, junto com um cocker cor de mel, criança cantando gospel ou gente saudável na praia ou de bicicleta.

O lance é pensar no que o consumidor é e não no que ele imagina ou gostaria de ser. O anunciante está focado nas famílias de hoje e está cobrando ousadia, criatividade. Disse que a propaganda e o cinema andam previsíveis, tudo meio igual. Se vira, Cadu! Cadu foi para sua sala pensando nas ordens do chefão, no seu emprego e nos dados do IBGE.

Mais da metade das famílias no Brasil já não é mais a “tradicional”, composta de papai, mamãe e filhos. Tem família de uma pessoa; de uma com um gato, periquito ou cachorro; outras de tia com sobrinhos; casais homossexuais com ou sem filhos; neto morando com a avó; pai ou mãe solteiros com os filhos; divorciados morando com enteados; divorciados morando com amigos etc. Cadu ficou pensando como vender margarina para essa gente toda.

Pensou num comercial com um velhinho sozinho e feliz numa casa de campo, num entardecer púrpura; imaginou um casal gay com dois bebês rosados e som de Elton John ao fundo numa sala aconchegante; pensou numa mulher solitária com ar jovial e com o cachorro no colo.

Claro, todos com uma fatia dourada de pão crocante nas mãos, coberto de margarina. Cadu até achou legal as ideias, mas ficou pensando mais e imaginou um grande encontro familiar, numa tardinha de domingo, no antigo chalé da chácara da bisavó, tipo zona Sul de Porto Alegre. Vão chegando cachorros, gatos, filhos, sobrinhos, pais, avôs, padrastos, madrastas, netos, amigos, companheiros, todo mundo reunido, como nos velhos tempos. Debaixo da velha figueira, a grande mesa, posta com as louças e talheres da bisa, a toalha rendada.

Muitos bolos, salgados, doces, café, chá, chocolate, leite e, ao centro, fatias do enorme pão colonial, desses feitos no forno de tijolos, com vários potes de margarina. Música suave ao fundo, violinos, Primavera de Vivaldi; Summertime de Gershwin ou Emoções do Roberto Carlos, por aí. Depois a mensagem final: Margarina......a saúde de todas as famílias.


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