25
de junho de 2013 | N° 17472
ARTIGOS
O “Face”, a estancieira e o herói
Zapata
Ainda
é cedo, mas algo já é possível dizer sobre as atuais manifestações de rua no
Brasil. Por exemplo: só haverá certeza de que o Brasil mudou quando formos a um
supermercado e não encontrarmos lá, no seu estacionamento lotado, um caminhonetão
ocupando duas vagas. Ou quando estivermos em uma fila qualquer, de lançamento
de um livro ou no caixa do banco, e não testemunharmos alguém, lá na frente,
furando a fila.
É um
equívoco pensar que os políticos vão virar anjos sem que antes mude a sociedade
que os pós-graduou como diabos, no seio da qual os pequenos delitos do
quotidiano são aceitos como normais.
Enquanto
continuarem existindo cidadãos que passam com o carrinho abarrotado em caixa de
10 volumes (quando os que estão corretos esperam), não haverá mudança. É um
contrassenso exigir que essa transformação ocorra de lá para cá, sem antes
passar pelo cidadão comum que será o político de amanhã.
É legítima
a indignação com os dirigentes da Fifa e com as suas reprováveis formas de atuação.
Mas as Copas do Mundo só existem porque torcedores, todas as semanas, deixam nos
estádios boa parte de seus salários.
Sem
contar o desatino por andarem fardados pelas ruas como se fossem jogadores
prontos para o jogo, num quadro de mau gosto que só o fanatismo explica. É preciso
entender que uma Copa do Mundo é organizada porque a nossa população se ocupa
de futebol dia e noite, num inferno passional que nem o próprio medonho das
trevas suportaria.
Se
no mundo, em especial no Brasil, não houvesse essa espécie de histeria pelo
futebol, e toda essa energia emocional e financeira fosse dirigida ao teatro,
por exemplo, não há dúvida de que a Fifa estaria, hoje, aqui, com outro nome,
realizando outro tipo de evento.
Protestar
contra a Copa e seus subprodutos é legítimo. Mas não custa pensar que este cenário
consumista, sustentado pela histeria dos amantes da bola, é um terreno fértil
para que circule tanto dinheiro no entorno de uma Copa. Se é uma revolução, a
mudança pode ser iniciada por um envolvimento menor com o produto que dá lucro à
Fifa. Ela não terá tanto poder e perderão aqueles governantes que usam o
futebol para agradar às massas.
Louvemos
o despertar do gigante. Mas, para o bem do seu futuro, já é preciso ir
entendendo essas questões de lógica pura. Para se evitar que a revolução não se
resuma a casos hilariantes, como o da jovem estancieira gaúcha que compartilhou
no Facebook frases de Emiliano Zapata para criticar o governo Dilma. Ou para
que não sobre para a história a imagem de um gigante que foi dormir de ki-chute
e acordou de Nike, mas sem um cérebro capaz de sacar a importância dessa mudança
de status.
*Escritor
- TAILOR DINIZ*
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